As populações têm atravessado dificuldades”…."Devemos ensinar as populações a guardar sementes para a próxima época"…."As populações foram avisadas de que devem abandonar as margens do rio"…"As populações mostram-se renitentes em aceitar a nova cultura…"…”Nem sempre é fácil combater os hábitos culturais das populações"….Etc.
Eis um termo carregado de um significado despojador flagrante. De facto, o que são “populações”? Agregados sem rosto, massa, rebanho, uma massa neutra, passiva, vegetal.
Todos os dias ouvimos técnicos, dirigentes estatais, políticos de profissão empregar esse cobertor da realidade.
Como escreveu um dia Roland Barthes, é mais agradável dizer populações (termo claramente burguês, segundo ele) do que classes, palavra demasiado forte e inconveniente.
Populações: um termo , um eufemismo que nos tranquiliza pela sua amplitude passiva de gente domesticada, sem rosto, sem singularidade, sem vida própria.
Acresce, também, como é evidente no discurso político local, que as populações não têm iniciativa, não têm história, são recalcitrantes: por isso precisam de ser ensinadas.
Primeiro são despojadas da sua individualidade. Depois ou ao mesmo tempo, são despojadas da história e da iniciativa.
Teremos um dia de fazer a sociologia de cobertores da realidade.
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