Em 2001, a minha assistente Helena Monteiro viveu um mês dentro do Hospital Psiquiátrico de Nampula. A ideia era saber se os doentes mentais que lá estavam o eram efectivamente. Eis a transcrição por ela feita, no seu diário de campo, do diálogo com um “doente mental” (T), que estava acompanhado de um outro (M):
Helena: Onde arranjaste essas coisas que estão na sacola?
T.: Sou um apanhador…
Helena: Gostas de ficar aqui?
T.: Isto é gaiola.
Helena: Gaiola como?
T.: É tipo gaiola, irmã!
M.: É casa, não é gaiola!
T.: Se é prédio por que parece gaiola? Por que marcam horas para voltar [fez esta pergunta a M.: que não respondeu]"
Clausura, mas, também, tristeza sem fronteiras:
T.: Corro em quilómetros quadrados [riso], quando passo pareço um fantasma porque passo depressa. Irmã, você tem religião?
Helena: Tenho, sou católica.
T.: Jesus está na terra, não está no céu, está enterrado, está a pensar o que vai fazer nos séculos aonde vamos.
Helena: Você não pode falar assim de Deus.
T.: Deus é como uma saudade.
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