Outros elos pessoais

26 abril 2006

Compra patrão, bom preço!

Quando se entra num dumba, quatro fenómenos chamam imediatamente a atenção: o ruído plural, o movimento desusado, o pregão dos vendedores "patrão compra aqui, faz bassela![1]" ou "compra patrão, bom preço!" ou "compra mano[2], preço de promoção!" e a subversão completa dos hábitos que temos de gestão espacial:

"Um ciclista vem da direcção dos Bombeiros, nem sequer sabe que está dentro dum mercado, vem a toda a velocidade, uma senhora que leva um cesto de alface e tem um bebé no colo anda sem dar conta de que um ciclista vem a todo o vapor, ela grita "Compra al-fa-ce!!!!!!", o ciclista chega e quase que apanha o pé da senhora, a bacia caiu e a senhora segurou o seu bebé e o ciclista caiu e apressado levantou-se, pegou na bicicleta e queria fugir, nem desculpas à senhora nem nada, mas à frente vinha um polícia que pegou na bicicleta e deu porrada na cara do ciclista e todo o mercado gritou "He! He! He!, Toma, dá-lhe mais!", o ciclista recebeu mais três porradas e foi levado para a esquadra."[3]

[1] Significa desconto em língua Chironga, na cidade de Maputo.
[2] Mano (diminutivo de irmão) e primo são dois termos muito frequentes nos dumbas, ao lado de pai/mãe, papá/mamã, tio/tia e patrão. O termo patrão não é só utilizado para os estrangeiros: um assistente meu, o Victor Matsinhe, por exemplo, foi rotulado de patrão quando quis conversar com os condutores de tchovas.
[3] Fátima Coleti. Mantive o estilo de escrita da minha colega.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.