Outros elos pessoais

28 fevereiro 2018

Água da chuva e a poupança de água em Maputo

Perante a carestia de água em Maputo, eu e familiares estamos a aprender as virtudes da água da chuva e as virtudes da poupança de água. Uma caleira, um tubo e um tanque permitem-nos agora guardar mil litros de água da chuva. A água da chuva só em última análise deve ser bebida. A fervura mata as componentes biológicas, mas não as químicas. Muito cuidado deve haver com os poluentes urbanos. Mas a água da chuva que passaremos a ter servirá para três coisas: rega dos jardins, lavagem dos carros e, se necessário, utilização nas retretes. Aprendemos, já, a reutilizar para as retretes a água do banho (retida pelo vedante da banheira e apanhada com caneca para um balde) e da máquina de lavar roupa (vertida para um balde), Aprendemos ser possível tomar um bom duche com cerca de sete litros de água. Finalmente: aprendemos a lavar a louça com água controlada numa bacia.

Precaução

Nenhum cientista social está imune aos erros, aos juízos de valor, aos prejuízos. Não é possível, perante os fenómenos sociais, ter o mesmo rigor, a mesma frieza, a mesma distanciação que temos ou podemos ter face aos fenómenos naturais. Se estivermos conscientes disso, será mais fácil reduzir o impacto dos nossos capitais prenocionais e dos nossos engajamentos extra cognitivos.

27 fevereiro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [31]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que um dos ingredientes da história aqui em causa é todo o imaginário social criado em torno do HIV/SIDA. São tantas as mensagens que passam sobre os malefícios da doença, que ela entrou na galeria dos pesadelos sociais. E acrescento agora: nessa galeria, a mulher aparece ao mesmo tempo como alvo e veículo da doença, um pouco como é suposta ser a transmissora primordial do feitiço. Mas, nas crenças populares, a maldição feminina precisa ser definitivamente assinalada pela perfídia de homem mau: o nigeriano, o estrangeiro, o exterior havido como ameaçador, como desconhecido, como perigoso.

26 fevereiro 2018

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. Confira na edição 1259 de 23/02/2018, aqui.

25 fevereiro 2018

Folheando a memória [6]

Número anterior aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

24 fevereiro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1259, de 23/02/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

23 fevereiro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [30]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que na história do bicho-papão-nigeriano de mulheres a casca é falsa mas o conteúdo é real, que essa história é como um mau sonho cujos ingredientes precisamos adquirir e analisar.
Um dos ingredientes é todo o imaginário social criado em torno do HIV/SIDA. São tantas as mensagens que passam sobre os malefícios da doença, que ela entrou na galeria dos pesadelos sociais.

22 fevereiro 2018

Sabem tudo

É admirável a capacidade de certas pessoas avaliarem outrem a partir de certos pressupostos, certos jornais, certas aparências, sem nenhum conhecimento real de quem é esse outrem e de quais são os seus círculos de história, trabalho, contacto e lazer.

21 fevereiro 2018

Folheando a memória [5]

Número anterior aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

20 fevereiro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [29]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Mas a história tem, à sua retaguarda, componentes sociais importantes que permitem compreender a natureza do rumor, rumor que assume a estrutura de um pesadelo.
Na história do bicho-papão-nigeriano de mulheres a casca é falsa mas o conteúdo é real. Essa história é como um mau sonho cujos ingredientes precisamos adquirir e analisar.

19 fevereiro 2018

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. Confira na edição 1258 de 16/02/2018, aqui.

Uma página de ironia no Faísca do Niassa

Existe no Faísca [jornal editado em Lichinga, capital provincial do Niassa] uma página de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "Kucela" [em Yaawokucela significa amanhecer]. Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. [amplie a imagem abaixo clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]

18 fevereiro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [28]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. A superfície da história remete-nos para o inverosímil: na hora do orgasmo, um estranho homem estrangeiro - o nigeriano (há muitos Nigerianos em Maputo) - largava vermes nos órgãos sexuais das mulheres vitimadas por suas arremetidas, vermes especiais que se alimentavam de fígado que era preciso comprar. E como se isso não bastasse, as vítimas iriam morrer.
E havia muita gente prisioneira da história e do medo, refém do papão estrangeiro. O que parece, é: era essa a medula da lógica popular.

17 fevereiro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1258, de 16/02/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

16 fevereiro 2018

Folheando a memória [4]

Número anterior aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

15 fevereiro 2018

História

A história é, afinal, a tragédia inseparável do claro e do escuro, do diurno e do nocturno, do lógico e do ilógico, da serenidade e do desespero.

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [27]

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que precisamos encontrar uma teoria que "mostre o rumor como revelador de uma estrutura, que reenvie o extraordinário para o ordinário, que detecte no epidémico o endémico" (Morin, Edgar, La rumeur d’Orléans. Paris: Seuil, 1969, p.7).
Para isso, para encontrarmos uma teoria vermicida, digamos assim, temos de ver no rumor do nigeriano verminador a estrutura de uma câmara escura singular, ao mesmo tempo invertendo a realidade e revelando-a.
O rumor conta uma história falsa para revelar e sublinhar um problema e uma inquietação reais.

14 fevereiro 2018

O que é verdade em História?

O 40.º livro da coleção Cadernos de Ciências Sociais, intitulado "O que é verdade em História?", tem a data de entrega à Escolar Editora aprazada para 20 de Abril deste ano, sexta-feira. Os autores são os seguintes: José d´Assunção BarrosAntonio Paulo BenatteCesar Saad (os três do Brasil) e João Carlos Colaço de Moçambique.

Folheando a memória [3]

Número anterior aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

13 fevereiro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [26]


Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).

Número inaugural aqui, número anterior aqui. Estamos, então, confrontados com a fantástica história do nigeriano verminador e anunciador da morte das vítimas femininas, usador de carros de luxo de cor negra, história que, de acordo com o editorial de um jornal, já circulava no Soweto (África do Sul) em Dezembro de 2008.
Devemos concentrar a atenção no fenómeno em si e deitá-lo depois na caixa de lixo das histórias sem consequências?
De forma nenhuma. Precisamos encontrar uma teoria que "mostre o rumor como revelador de uma estrutura, que reenvie o extraordinário para o ordinário, que detecte no epidémico o endémico" (Morin, Edgar, La rumeur d’Orléans. Paris: Seuil, 1969, p.7);

12 fevereiro 2018

Uma crónica semanal

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (=abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. Confira na edição 1257 de 09/02/2018, aqui.

11 fevereiro 2018

Folheando a memória [2]

Número anterior aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

10 fevereiro 2018

Uma coluna de ironia

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1257, de 09/02/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.

Folheando a memória [1]

Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

08 fevereiro 2018

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [25]

Número inaugural aqui, número anterior aqui. Segue-se a partir deste número a história de um outro rumor a que chamarei "O bicho papão nigeriano". O que aconteceu? Aconteceu que em 2009 correu em Maputo e Beira o rumor de que um diabólico nigeriano violava mulheres. Mas não só: eis os ingredientes dados a conhecer por certa imprensa local:
1. O papão era estrangeiro, havido por nigeriano, fugido da África do Sul;
2. O papão circulava numa viatura de luxo, de cor negra (certamente com vidros fumados);
3. O papão maligno disseminava o mal por via sexual;
4. O mal chegava sob forma de vermes depositados nos órgãos sexuais femininos quando o papão ejaculava (como se fosse um ser extraterrestre que quisesse propagar a sua espécie);
5. Os vermes comiam fígado (víscera que desempenha importantes funções metabólicas), eram carnívoros especiais;
6. Como se não bastasse serem pasto de vermes comedores de fígado, as mulheres vitimadas eram ainda coagidas a comprar urnas para os seus funerais, pois - assegurava o grande rumor - iriam morrer.
Aguardem a continuidade.