Outros elos pessoais

03 setembro 2010

A luta de barricadasSMS

Achei bem fazer uma postagem alusiva ao tema com o título em epígrafe.
O que se está a a passar? O que se está a a passar é que, após a onda inicial de sms apelando ao protesto e à luta nas manifestações em Maputo e Matola, surgiu no fim desta tarde uma onda contrária, apelando à paz e ao trabalho, com um teor muito sloganístico. O que pode isso revelar? Isso pode revelar que teve início no país um novo tipo de luta política, a luta de barricadasSMS. Pormenor: na primeira ondaSMS, não surgia o número de telefone do emissor. No segundo, surge, da Mcel, mas incompleto (falta-lhe um número), a saber: 82065564. Um fenómeno merecedor de estudo. Enquanto isso, procure seguir a minha série Manifestações: estímulo sul-africano e produção de rumores (já agora, leia lá os comentários).

1 comentário:

  1. No dia 1 de Dezembro de 2008 uma criança pediu-me uma moeda no aeroporto de Maputo, enquanto eu esperava transporte.

    Já tinha visto em reportagens e filmes aqueles "olhos" mas, ... ao pé de mim a interagir comigo é que nunca tinha tido essa experiência.
    Disse-lhe que não tinha, pois ainda não tinha trocado euros para meticais. A criança voltou-se, “ferida” pela minha resposta.
    Fiquei capaz de tudo e nem o facto de ter sido bem avisado sobre estas situações me deixou de partir o coração.
    Ela volto e com uns “olhos” que nunca vou esquecer disse; “dá-me uma moeda da Europa”!
    Ainda hoje me pergunto como ela sabia que eu vinha da Europa! Talvez pela minha anterior resposta, língua e forma de estar.
    Não fui capaz de resistir procurei na algibeira e ao passar pelas moedas fiz questão em dar-lhe uma moeda de 1 euro. Não consigo descrever a felicidade e os olhos que vi! No entanto senti que não tinha feito nada, um amargo de boca!

    Foi apenas um episódio na minha vida.

    Interesso-me à muitos anos pelas Culturas Africanas nomeadamente Moçambique e Angola. Sinto, como todos, provavelmente, que existe um problema gravíssimo a resolver rapidamente. Enquanto esse problema não estiver resolvido, é melhor não falar em Turismo, em Desenvolvimento, em Progresso, em pedir para Trabalhar mais e Produzir mais.

    Não é meu objectivo estar a “cientificar” este texto, mas, vou dizendo que à necessidades básicas como todos sabemos que tem que ser satisfeitas. Todos os sabemos e os responsáveis também o saberão.

    Apreendi ao longo dos anos que grande parte das revoltas e instabilidades tem por base uma necessidade básica – alimentar-se! Não foi à toa que “os outros” tinham a lei do pão e circo!

    Não conheço Moçambique, apenas um pouco das cidades de Maputo, Beira e Chimoio, mas pelo que percebi ninguém nos últimos dias está a pedir: Toyotas, Hummeres, Cayennes ou outros luxos! Segundo entendo estão a pedir apenas pão (isso que acho que é bíblico) e expressivo em todas as línguas, que aproxima pobres e ricos à mesa. “O tal pão nosso de cada dia”!

    Parece que o que se pede é que não subam os preços, parece que falam em produtos básicos energéticos que lhe vão colocar dificuldades insustentáveis no seu dia a dia, através da subida de um custo de vida para alguém que já pouco tem.

    Claro que em outros países isso não acontece, existem “malabarismos” económicos e “ferramentas” abonatórias que “controlam” essas agitações sociais à custa de mais um subsídio (muitas das vezes injusto) que todos pagaram. No entanto, e no imediato o efeito resulta e com uns rendimentos mínimos ninguém se agita e a ”coisa” anda.

    Moçambique e outros países do mundo não tem provavelmente esses mecanismos, devendo por isso não fazer apenas uma “contabilidade de mercearia - cega” que não garanta uma das coisas mais básicas da vida – o direito a viver! Hoje fruto de “teorias” que não interessam ao tema, o pão no meu país tem o preço livre (uma “roubalheira”), no entanto em outros tempos o pão foi “tabelado” pelo governo (e bem face à situação de pobreza desses momentos). Hoje perante a realidade tão difícil de Moçambique julgo que esse produto devesse também ser tabelado e até subsidiado para as classes mais pobres e necessitadas. Era um sinal de compaixão de humanidade.


    Também eu desejo que por essa necessidade básica de pedir “pão” haja entendimento e misericórdia para entender que uma “barriga com fome e em desespero” pode suscitar reacções violentas e marginais como as que se tem vivido e que me deixam perplexo, devido a forma como foi convocada, SMS, ao que parece (sem estrutura, sem organizações, mas como movimento popular, e isso é por si facto de reflexão a espontaneidade do povo e registo para desenvolvimentos futuros). Será que este método de SMS para juntar massas não deve ser estudado? será que pode alastrar a outros locais ou paises?

    Que esse pedido de pão reúna à mesma mesa todos os Moçambicanos e não os divida porque o tema é capaz de ser dos mais nobres da “Humanidade”. Dar comer a quem tem fome!

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