Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
20 julho 2010
Liberdade
9 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Eu diria mais:
ResponderEliminar"A liberdade não é um dado natural, mas social.
Ter consciência disso é um primeiro indicador de liberdade..."
Embora simpatize com o pensamento de Rousseau a verdade é que não faz muito sentido dizer que o homem em estado selvagem (natural) é bom e é a sociedade que o corrompe. O Homem é por natureza um ser social. O Homem não pode ser desintegrado do contexto social. Sem sociedade não existe ser humano. Já Aristóteles dizia que "O homem que não precisa da sociedade ou é um Deus ou um animal". Marx diz algo semelhante e na continuidade deste raciocínio ao referir que «...é a consciência do homem determinada pelo seu ser social».
ResponderEliminarMarx vai mais longe ao considerar que o que distingue os homens dos animais é o facto das capacidades e gostos humanos serem um produto social e que o individuo isolado não passa de uma ficção. O indivíduo funciona como uma esponja que absorve, através do processo de socialização, as formas de pensar, sentir e agir que lhe são passadas pelas gerações mais velhas.
O indivíduo não é contudo um ser neutro e contribui através da interacção social para a transformação da sociedade.
Marx vê o indivíduo como um ser social que resulta de todo um passado histórico. Mas não deixa de o encarar, igualmente, como um transformador da realidade social.
Para Marx o Homem é um "produto" da história e não um mero resultado do contexto social presente. O que somos hoje resulta do que formos ontem. Este carácter de homo historicus que Marx atribui aos indivíduos é uma referência importante no seu método de análise da evolução social e de explicação das razões que lhe estão inerentes.
Marx utiliza o materialismo histórico para explicar a evolução social. Marx considera que a sociedade é «Um produto histórico, o resultado de uma sucessão de gerações, cada uma das quais como que subindo para os ombros da que a precedeu…»
Ao pensamento de Rousseau poderíamos opor igualmente o de John Locke ou de Thomas Hobbes quando estes defendem que o Homem é mau por natureza e são as regras sociais que o “domesticam”.
Poderia igualmente recorrer-se ao pensamento de Norbert Elias. Elias refere que de facto individuo e sociedade não é exactamente a mesma coisa. Não se pode dizer simplesmente que uma sociedade é um conjunto de indivíduos. Tal como não se pode dizer que uma casa é um conjunto de pedras ou uma floresta é um conjunto de árvores. A sociedade, utilizando uma linguagem sistémica, é qualitativamente superior ao somatório da acção social de cada indivíduo, contudo, não se pode dizer que seja algo exterior aos indivíduos. É antes algo que é construído, como diz Elias, muitas vezes de forma não intencional e sem que os indivíduos estejam em condições de predizer as consequências futuras da sua acção.
Norbert Elias reforça a ideia de que não faz sentido referir que as estruturas ou os sistemas coagem o indivíduo. Isto porque os sistemas e as estruturas são corporizados por indivíduos e não existem por si só. Quando muito pode dizer-se que indivíduos coagem outros indivíduos.Esta questão remete para o que Elias considera poder. Para ele o poder desenvolve-se, tal como as classes sociais, do inter-relacionamento que se estabelece entre os indivíduos e das relações de dependência que dai derivam. Ou seja, somos mais ou menos poderosos consoante os indivíduos dependem mais ou menos de nós.
É igualmente interessante analisar o comportamento do Homem à luz do conceito de Homo Demens que Morin apresenta na sua obra o paradigma Perdido e a Natureza Humana.De facto, o Homem apresenta características completamente distintas, por um lado é capaz dos actos da mais profunda entrega ao próximo e por outro é capaz das maiores barbaridades. O Homo Demens (demente) é uma espécie de alter ego do Homo Sapiens.
O Homem padece de uma espécie de esquizofrenia genética que é passada intergeracionalmente.
O Santana escreveu muito, e muito bem. Pena que se cingiu em citações e não deu a sua própria opinião.
ResponderEliminarEu não tenho. Não porque concordo plenamennte com estas frase: "O homem não nasce livre, mas pode tornar-se livre. A liberdade não é um dado natural, mas social. Ter consciência disso é um primeiro indicador de liberdade e, talvez, a primeira porta aberta da democracia."
Zicomo
Theodor W. Adorno, em Educação e Emancipação, reforça o que se diz acima, quando menciona a educação (não necessariamente a formal) como vetor de autonomia (liberdade). Autonomia e liberdade seriam a mesma coisa? (Marilena Chauí diz que há liberdade onde há escolha.) Há interesse em se estimular a autonomia ou as relações de domínio se estabelecem de qualquer forma?
ResponderEliminarPaulo; Brasil
Conforme os teóricos do realismo político escreveram: o homem, no seu estado natural, é mau, é o maior inimigo de "si mesmo". Porém, mesmo no Estado civil, onde as regras sociais tornam o homem menos mau, domesticável, não se nasce livre, cada homem é presa do outro (lobo), sendo que o grau de sujeição depende da posição social a que cada um ocupa na estrutura... os detentores do poder efectivo estão menos sujeitos ao outro do que sobre que se detém o poder... razão por que Michels, R. (1966) debruça-se sobre "a lei de ferro das oligarquias" (acho eu que, em parte, ele transparece a ideia de que a liberdade é limitada pela simples vontade e não, necessariamente, pelo direito do outro").
ResponderEliminarDe facto é verdade que utilizei muitas citações no meu comentário. A utilização de autores, como suportes epistemológicos, são uma regra da sociologia. Na prática não somos nós que falamos, mas sim os autores que falam por nós.
ResponderEliminarO nosso pensamento só pode alcançar algum reconhecimento se suportado no pensamento de outros. É assim que se faz a ciência social e não a filosofia social.
Fazendo o copy paste?
ResponderEliminarSem no entanto o Santana dar "uma sopinha" pessoal sobre o tema?
Se assim fosse, penso que, qualquer um, sem o mínimo de instrução, faria este exercício.
Mas não é bem assim, citações servem para suportar uma ideia, uma tese, o que não é o caso. O Santana limitou-se a seguir as pegadas dos autores, como se o conhecimento fosse uma missa.
É preciso pegar nessas citações e encontrar caminhos possíveis de soluções e não um simples desfile dessas ideias.
Como lhe disse, gostei das citações, mas esperava ver mais ideias suas, afinal o Santana é um dos seres pensantes e não um mero consumidor.
Zicomo
Concordo em parte com o que diz. Contudo, volto a frisar que temos que diferenciar o que é filosofia social ou opinião pessoal daquilo que é ciência sociológica. A ciência sociológica faz-se, como toda a ciência, da confrontação dos conceitos (da teoria) com a empiria e com o que nos diz a realidade sociológica.
ResponderEliminarPosso contudo, apesar de perder algum rigor metodológico, dar a minha opinião sobre temas que surgem neste blogue que apenas hoje tive o prazer de descobrir.
Obrigado e seja bem-vindo.
ResponderEliminarZicomo