10 fevereiro 2017

Patronagem e clientelismo

Escreveu um dia Maurice Godelier que "A força determinante não é a violência dos dominantes, mas o consentimento dos dominados à dominação". Provavelmente reside aí a chave de todos os processos sociais que hierarquizam pessoas, relações, deveres e ganhos, que habitam, das mais variadas maneiras, as complexas relações de patronagem e clientelismo, que, em seus meandros regra geral sinuosos, fazem sistematicamente frente ao que Max Weber chamou racionalidade formal.
No seu brilhante O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, Karl Marx talvez tenha sido pioneiro na produção da antecâmara analítica do clientelismo, ao descrever uma das consequências da intrusão social em França do que chamou “Estado forte”: “[...] Finalmente, produz um excesso de desempregados para os quais não há lugar nem no campo nem nas cidades, e que tentam, portanto, obter postos governamentais como uma espécie de esmola respeitável, provocando a criação de postos do governo.”
Esmola que, a outros níveis para além do Estado, permite, afinal, o que La Boétie chamou “servidão voluntária”.
[Parte da introdução que escrevi para o 24.º número da coleção Cadernos de Ciências Sociais da Escolar Editora, no prelo, intitulado "O que são patronagem e clientelismo?"]

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