05 julho 2016

Espíritoterapia

Em África os problemas de saúde mental a nível popular não podem ser analisados fora da negociação epistemológica com as forças do invisível. É necessário anexar à farmacoterapia, à psicoterapia e às terapias sociais, a espíritoterapia. Como é o doente encarado do ponto de vista biomédico? Como uma entidade unívoca, individual, individualizável, como a única sede da doença, como um problema que, com algum tempo e paciência, pode ser resolvido nas fronteiras de uma enfermaria.
De que sofre o doente A? Sofre de uma nevrose sem lesão orgânica. Quais os percursos da possível cura? Psicoterapia e farmacoterapia. Este, o universo de sentido único. Coloquemos agora o doente A na perspectiva da epistemologia popular. Qual é o problema? O problema é que um espírito incomodado o perturba. É o problema individual? Não, o problema não tem a ver com o doente em si, mas com uma família, pode mesmo ter a ver com uma comunidade. Estamos, então, numa sociedade de universos múltiplos. Socorrendo-me de uma formulação do sociólogo húngaro Norbert Elias, a pergunta não é: o que é que provoca o problema? Mas, antes: quem é que provoca o problema? A etiologia muda, o fenómeno tem a ver com a intencionalidade das forças do invisível (invisíveis, sim, mas supostas vivas), o mestre chamado não é o psicólogo ou o psiquiatra, mas o gestor dessas forças. Surge, então - permitam-me o termo -, a espíritoterapia.

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