20 abril 2014

A confusão entre juízo de facto e juízo de valor

Quando dizemos "esta garrafa é verde" estamos perante um juízo de facto. Quando dizemos "esta garrafa verde é bonita" estamos perante um juízo de valor. Na primeira proposição definimos uma certa realidade, abstendo-nos de a classificar estetica ou moralmente; na segunda, a avaliação factual é determinada pela avaliação estética ou moral.
Se estiverdes atentos ao que se escreve na nossa imprensa, nos blogues e nas redes sociais digitais, dareis facilmente conta da promiscuidade permanente entre os dois tipos de juízo, mesmo a nível académico.
Um exemplo político: "o partido A quer atingir o poder" é um juízo de facto - mesmo se sujeito a comprovação; mas a preposição "é uma aberração o partido A querer atingir o poder" é um juízo de valor. No mercado das ideias, o segundo tipo de juízo faz questão de ostentar os galões do primeiro.
Como escreveu um dia Charles Peirce, mais do que verdades científicas procuramos crenças que tomamos por verdadeiras. Faltou-lhe acrescentar: especialmente a nível político.

1 comentário:

Salvador Langa disse...

Um lindo texto bem na tradição do "fungulamasso".