23 agosto 2012

Apartheid não tem raça: massacre de Marikana (6)

Sexto número da série, crédito da imagem aqui. Uma altura há-de chegar na qual procurarei explicar por que razão faço uso da expressão Apartheid não tem raça. Enquanto aí não chego, creio ser boa ideia dar-vos conta do que disse a Sra Susan Shabangu, ministra sul-africana dos Recursos Minerais, por ocasião de uma sessão especial do Parlamento para discutir o massacre de Marikana: "Não é certamente correcto que as comunidades de mineração, tais como as de Marikana e outras, vejam companhias mineiras e seus dirigentes ostentando prosperidade e consumo conspícuo, enquanto elas continuam a experimentar a pobreza." AquiMas dever-se-á admitir que o problema não está apenas ao nível das companhias mineiras, os arquitectos da pobreza podem ser de vários azimutes nacionais, como escreve Moeletsi Mbeki aqui. Enquanto isso, depois de passar os olhos por aqui e sabendo que a nível parlamentar se exigiu saber quem deu ordens à polícia para disparar balas reais, confira um cartun de Zapiro sobre Julius Malema, reproduzido com a devida vénia daqui:
(continua)
Adenda: de acordo com um texto notável pelo seu ecletismo, afinal ninguém é especificamente culpado do massacre. Aqui.
Adenda 2: mas a vida é geralmente menos eclética do que pensamos e por isso acho útil sugerir a leitura de um texto defendendo que o massacre foi planeado pela polícia. Aqui.
Adenda 3: "Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar." - Bertolt Brecht.
Adenda 4: o presidente Zuma visitou Marikana ontem, mas os mineiros não mostraram satisfação e prometeram prosseguir a greve. Aqui.
Adenda 5: intervenção do Arcebispo Desmond Tutu sobre o massacre, aqui.

3 comentários:

nachingweya disse...

As políticas e estratégias de discriminação positiva falham em África porque a noção do comum entre os africanos refere-se quase sempre a um universo limitado à etnia, partido ou família. Uma nação com vários grupos étnicos ou multipartidária faz confusão ao "mind set" essencialmente tribal dos actuais gestores dos territórios (ou paises) resultantes da Conferência de Berlin para a partilha de África.
Daí o recorrente apelo discursivo à unidade nacional face aos desiquilibrios de distribuição do Bem Comum.
Marikana é um marco. A bola de neve (ou de fogo) vai rolar por toda a África do Sul num cenário em que própria polícia já se desautorizou moralmente. Estará Zuma preparado para fazer marchar o Exército sobre o seu próprio povo em defesa dos 'baas'de Londres?

PS.: Quantas vezes Zuma terá jantado em casa do patrão da Anglo-American aproveitando as passagens aéreas de uma visita de Estado?

ricardo disse...

Achei a atitude de Zuma cinica e ate patetica. Foi verdadeiramente uma peca de teatro mal encenada. De qualquer modo, e notorio o interesse da "nomenklatura" do ANC no bom desfecho do assunto.

E pelos vistos, um pouco por toda a SADC.

Salvador Langa disse...

Ora aqui está, tirar a roupa ao que parece "singelo".