31 julho 2010

Sinta

Rola pensativa deixa cair a semente

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Dossier "Savana"(2)
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (5); Indicadores suspeitos e comoção popular (9); Racismo, etnicismo e xenofobismo (16); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

EUA: demasiadas leis, demasiados prisioneiros

No The Economist, com indicação do custo anual dos prisioneiros, aqui. Obrigado ao Ricardo de Paris pelo envio da referência. Tradução: Free Translation

Dominação e direcção: luta política na Beira (4)

Em 2008, o Município da Beira (então sob controlo da coligação Renamo/União Eleitoral e presidência de Deviz Simango) ofereceu uma ambulância ao Centro de Saúde da Munhava e cinco balneários públicos a outros tantos bairros. Escrevi nesse ano, numa série de três números intitulada A guerra dos dons e dos créditos, o seguinte:
(continua)

Indicadores suspeitos e comoção popular (8)

Acima um extracto de uma notícia inserta no "Diário de Notícias" e no "Notícias", respectivamente aqui e aqui.
Mais um pouco desta série.
Como já escrevi, a inquietação social suscitada pelo tráfico e/ou pela sua ameaça dá, de imediato, origem a vários tipos de fenómenos. Sugeri dois no número anterior, sugiro mais dois agora:
3. Essencialização. Todo aquele que, em meio pobre, tiver uma casa considerada luxuosa, de muros altos, todo aquele que use viaturas de luxo, especialmente com vidros fumados, é sem qualquer dúvida raptor de seres humanos. No imaginário popular, a essência da riqueza advém dos negócios obscuros e de práticas mágicas.
4. Padronização psicologizante. O raptor é um um ser bem vestido, de fala persuasiva, de maneiras convincentes.
(continua)
Nota: o quadro analítico aqui proposto pode também ser usado em fenómenos como o racismo, o etnicismo e o xenofobismo.

Ritualizados e expositivos

Os casamentos em Maputo estão cada vez mais ritualizados e expositivos. Não basta a união entre dois seres e duas famílias: urge igualmente o casamento com pompa, com extrema visibilidade exterior e sónica, com grande dispêndio de coisas materiais e simbólicas. Para servir as classes mais abastadas do 4x4, existe agora uma frota em crescimento de limusines de várias cores. Tornou-se fundamental exibir sinais extermos de riqueza e/ou de êxito. As classes menos favorecidas - as do ntxopelo, do chapa e do autocarro do Estado - lutam para serem, elas também, empreendedoras, limusinadas. Enquanto não sobem a rampa elitária do céu terreno, vão-se fotografando ao lado das limusines.

Emparelhado

O António Eduardo chegou a uma conclusão: "O mundo anda sempre emparelhado de forma oposta". Aqui.

Profundos

Presidente de um partido sem qualquer relevo político no país, o Partido Trabalhista, mas assíduo frequentador do "Notícias", o Sr. Miguel Mabote continua a produzir reflexão política de inegável originalidade. Agora chegou à conclusão de que "é chegado o momento de os moçambicanos se confiarem uns nos outros". Nesta cruzada pela profundidade analítica, é acompanhado por um proeminente colega, Neves Serrano, do Partido do Progresso Liberal de Moçambique, que conseguiu quatro parágrafos contra um de Mabote no jornal online acima referido e propôs uma nova lei eleitoral que evite "tensões pós-políticas". Aqui. E recorde uma postagem minha sobre partidos políticos, aqui.

Itinerário

Dossier (1)

Queira consultar a primeira parte de um dossier com peças do semanário "Savana" de 30/07/2010, aqui.
(continua)

30 julho 2010

As bichas do Zimpeto

O leitor Ricardo tirou a foto em epígrafe esta manhã no Zimpeto, periferia da cidade de Maputo: longas bichas de viaturas, com os automobilistas à espera de serem atendidos na inspecção obrigatória de veículos. O prazo termina a amanhã, segundo o "Notícias" as autoridades do pelouro descartaram  a prorrogação do prazo, mas alguém me informou esta tarde que o prazo foi, afinal, prorrogado, do que, porém, não estou certo. Se for verdade que o prazo foi prerrogado, é muito provável que o ritmo de afluxo reduza drasticamente, para aumentar quando o novo suposto prazo estiver a terminar. O nosso ritmo é, quase sempre, antropológico, ao sabor do não há crise.
Nota: os leitores brasileiros devem entender bicha enquanto sinónimo local de fila: bicha de carros, fila de carros.
Adenda às 20 horas: o prazo foi prorrogado por tempo indeterminado dado - assegurou à STV o director nacional adjunto do Instituto Nacional de Viação, Sr. Jorge Miambo - não estarem ainda reunidas as condições a nível nacional. Por outras palavras: antes havia e agora não há. Nem Heráclito faria melhor.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Dossier "Savana"(1)
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (4); Indicadores suspeitos e comoção popular (8); Racismo, etnicismo e xenofobismo (16); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

Após o mundial: cartun de Zapiro

Pois é, após o mundial e as vuvuzelas, de volta à realidade...Aqui.

As estradas da democracia mundial

Argumentando que o direito internacional não contempla o tema, mais de 40 países abstiveram-se no tocante a uma resolução, proposta pela Bolívia e ontem aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, afirmando o direito universal à água e ao saneamento. Segundo  a Folha.com: "Cerca de 884 milhões de pessoas carecem de acesso à água potável no planeta, mais de 2,6 bilhões não têm saneamento básico, e cerca de 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos morrem a cada ano por causa de doenças vinculadas à água e ao saneamento, segundo países patrocinadores da resolução."

Dois em um: guarda e lixeiro

Quivala e o homem com base no próprio homem

"Como Partido Humanista de Moçambique, surgimos especialmente virados para prosseguir a satisfação de interesses do homem com base no próprio homem, diferentemente daquilo que vem sendo a abordagem das formações políticas que nos antecederam." - missionárias palavras de Cornélio Quivala, presidente do Partido Pahumo sediado em Nampula e antigo parlamentar do Partido Renamo. O Sr. Quivala também disse que não haveria ajuntamentos com outros partidos pois isso seria "agressão ideológica" (jornal "Zambeze" de 29/07/2010, em trabalho de Moisés Cuambe, p. 13). Citado o mês passado pelo "O País", o Sr. Quivala garantiu (certamente não pestanejou) que o partido já tinha 900 mil militantes de Cabo Delgado.

No CM

No "Correio da manhã" de hoje, aqui.

Segundo DN

No "Diário de Notícias" de hoje, aqui. Recorde aqui. Siga uma série minha com o título Dominação e direcção: luta política na Beira, aqui.

Segundo MF

No "Mediafax" de hoje, aqui.

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual ofereço, desde já, um aperitivo:

Pureza

Hoje

DZ

No "Diário da Zambézia" de hoje, aqui.

Indicadores suspeitos e comoção popular (7)

Acima um extracto de uma notícia inserta no "Diário de Notícias" e no "Notícias", respectivamente aqui e aqui.
Mais um pouco desta série.
No número anterior propus-vos que o fenómeno fosse analisado a partir de três vectores: 1. O vector da inquietação social provocada pelo tráfico e, especialmente, pelo rumor sistemático; 2. O vector da compensação simbólica através da transferência de causalidade; 3. O vector do oportunismo.
A inquietação social suscitada pelo tráfico e/ou pela sua ameaça dá, de imediato, origem a vários tipos de fenómenos agindo de per si ou agrupados.
1. Generalização por informação incompleta. Se houve efectivamente um rapto, é porque o rapto existe de forma generalizada e não importa onde. Ou antes ou depois, o simples desaparecimento (temporário ou definitivo) de uma criança é suficiente para fazer nascer o rapto no imaginário popular.
2. Falsa identificação. Se alguém vive de forma abastada é porque vive do rapto, do sangue dos outros. A nível campesino, existe uma secular tese, a saber: quem produz mais do que os outros, só o pode fazer à custa desses outros através de mecanismos mágicos.
Prossigo no próximo número.
(continua)

Dominação e direcção: luta política na Beira (3)

Mais um pouco desta nova série.
Na edição de 28 do corrente do "Magazine Independente", em trabalho já referenciado neste blogue, o jornalista Nelo Cossa escreveu que "Daviz Simango entregou, na manhã de sexta-feira, do dia 23, às oficinas e postos administrativos, quatro viaturas para apoios a serviços, dois camiões portacontentores, três compactadores, 22 contentores de lixo e mais 16 que chegarão em breve" (p. 10).
(continua)

29 julho 2010

Capa da edição com data de amanhã

Nota: como é habitual neste diário, proximamente farei entrar o Dossier "Savana", com peças por mim seleccionadas da edição de 30/07/2010.

A colher é minha

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: A "hora do fecho" no "Savana"
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (2); Indicadores suspeitos e comoção popular (7); Racismo, etnicismo e xenofobismo (16); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

No MF

No "Mediafax" de hoje, aqui. Recorde as minhas séries com os títulos Os riscos do efeito borboleta social na África Austral e   Racismo, etnicismo e xenofobismo, respectivamente aqui e aqui.

No "Expresso"

Relatório

Dominação e direcção: luta política na Beira (2)

Vamos ao segundo número da série, com uma breve introdução teórica.
A gestão política pode fazer-se através de dois tipos de capital: o capital de dominação e o capital directivo.
O que entendo por capital de dominação? É  o conjunto de procedimentos que concernem à coerção física directa.
O que entendo por capital directivo? É o conjunto de procedimentos destinados a obter a adesão e/ou o amorfismo político dos cidadãos.
Quanto maior for o investimento nos aparelhos repressivos e na repressão, mais alta será a a composição orgânica da política e menor, portanto, a taxa de lucro político, quer dizer, menor a legitimidade de quem gere o Estado ou aspira a fazê-lo.
(continua)

Racismo, etnicismo e xenofobismo (15)

O penúltimo número desta série, com um quarto exemplo de intolerância local:
4. Este ano, registaram-se ataques a lojas de estrangeiros no Xiquelene, periferia da cidade de Maputo.
Apresentei-vos quatro exemplos de fusíveis sociais sobre os quais importa reflectir com profundidade.
(continua)

28 julho 2010

O bico vaidoso do papagaio

Relatório nas próximas horas

A ler

Aqui e aqui. Sobre a Vale em geral e em Moçambique, aqui.Free Translation

Dominação e direcção: luta política na Beira (1)

Este é o início de uma série com o título em epígrafe.
Adenda: no "Magazine Independente" com data de hoje há dois trabalhos que destaco: o editorial de Salomão Moyana com o título "Má imagem da Frelimo na Beira" (p. 7) e, assinada por Nelo Cossa, uma reportagem com a seguinte identificação: antetítulo "Cantando "Que venham" com gasolina e pneus na mão", título "Munícipes da Beira inviabilizam execução de uma sentença" e subtítulo "Uma sentença política incendiária e irresponsável, com arranjos judiciais, põe a Beira em alvoroço" (p. 10). Recorde aqui.
(continua)

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Diversos
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (1); Indicadores suspeitos e comoção popular (7); Racismo, etnicismo e xenofobismo (15); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

Índice de pobreza multidimensional

Este mês, Sabine Akire e Maria Emma Santos apresentaram um texto contendo um novo método de medir e comparar a pobreza em 104 países (entre os quais o nosso, considerado um dos 26 mais pobres países de África): o índice de pobreza multidimensional, um compósito de três dimensões contendo dez indicadores. Confira aqui. Para ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Tradução:Free Translation

Edição de hoje

Confira aqui

MF

No "Mediafax" de hoje, aqui.

Samora e Rebelo (2)

Depois de no número inaugural ter recordado Samora Machel, é agora a vez de vos revelar um poema de Jorge Rebelo intitulado "A dualidade do ser":
Costumo assistir, nunca falto a estas cerimónias
(quando me convidam).
A de ontem então foi empolgante:
Muito faustosa, muitas figuras,
ouvimos discursos laudatórios,
patrióticos, exalando saber e rectidão.
Adorei.
Prossigam a leitura aqui.
(fim)
Adenda às 10:33: um leitor escreveu-me dizendo que os excertos que fiz da obra de Samora Machel encimam o poema de Jorge Rebelo, não devendo ser separados. Tem razão. Eis, então, o texto completo, abrindo com a frase “Poesia de combate”, aqui.

O pescador, a rede e o Índico de manhã

Samora e Rebelo (1)

Vou primeiro lembrar Samora Machel, para depois apresentar um poema de Jorge Rebelo:
"(...)... O transformar-se a disciplina numa obediência cega às ordens do escalão superior, o querer fazer-se dos militantes e combatentes executores autómatos do comando, é uma insuficiência muito grave. (...) Os ambiciosos recorrem à corrupção e suborno de camaradas para os utilizarem nas suas manobras pérfidas" (Machel, Samora Moisés, 1973, Impermeabilizemo-nos contra as manobras subversivas intensificando a ofensiva ideológica e organizacional no seio dos combatentes e massas. [Moçambique] : Imprensa Nacional, 1975. 31 pp.)
(continua)

Racismo, etnicismo e xenofobismo (14)

Mais um pouco desta série, com mais dois exemplos de intolerância local:
2. Em Março de 2007 foram reportados casos de ataques a bens de cidadãos burundeses e congoleses em Nampula .
3. Em Outubro ainda de 2007, correu em Morrumbene, província de Inhambane, provocando pânico, o boato de que Chineses estavam a sequestrar crianças do ensino primário .
(continua)

27 julho 2010

Miragem

Proximamente: Samora e Rebelo

A partir da meia-noite local, surgirão neste blogue duas coisas, para as quais desde já chamo a vossa atenção:
1. Um excerto de Samora Machel
2. Um poema de Jorge Rebelo

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Diversos
* Séries: Indicadores suspeitos e comoção popular (7); Racismo, etnicismo e xenofobismo (14); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

DZ e WF

Os jornais "Diário da Zambézia" e "Wamphula Fax" não têm sido divulgados neste diário devido a uma avaria num cabo submarino que, entre outros problemas, impede o uso da internet.
Adenda às 17:13: internet restabelecida hoje, informação há momentos de uma fonte do DZ.

Armas de fogo

No seu noticiário das 12:30, a Rádio Moçambique noticiou que homens munidos de armas de fogo assaltaram um posto da Electricidade de Moçambique situado no Infulene, periferia da cidade de Maputo, roubando o dinheiro colectado aos contribuintes. O assalto soma-se aos dois noticiados hoje neste blogue e ao ocorrido em Tete. Tudo leva a crer que estamos diante de um sismo de grande criminalidade. Interrogo-me sobre a origem da armas de fogo, pistolas e metralhadoras. Este é um tema raramente abordado.

CM

No "Correio da manhã" de hoje, aqui.

Criminalidade e prismas

Aqui. E em primeira página aqui. Em Fevereiro deste ano escrevi neste diário o seguinte texto: "A grande criminalidade no país, especialmente a grande criminalidade na cidade de Maputo, desperta invariavelmente uma grande comoção. Os jornais reportam-na em grandes parangonas. Um assalto a um banco, por exemplo, merece imediatamente uma primeira página nos jornais, uma destacada manchete na televisão. Mas lá nos bairros periféricos das nossas cidades, por exemplo, o que é grande criminalidade? Aí, a grande criminalidade é o pequeno assalto, a intrusão do ratoneiro de esquina, o gang de subúrbio, um assassinato por desconhecidos, um corpo sem vida numa ruela, a insegurança amarrada à sobrevivência do dia-a-dia, coisas que aparecem normalmente diluídas na secção de ocorrências do "Notícias", juntamente com informaçcões sobre os asmáticos que procuram os serviços hospitalares. Nas zonas rurais, a grande criminalidade é, também, o roubo furtivo, mas também o mau olhado, o efeito malévolo do feiticeiro traduzido - acredita-se - na morte de alguém de cuja malária ninguém quer saber. Afinal, a vida parece ser como assim: a intensidade de um prisma."

Dupla administração

Informa o "Notícias" online de hoje que deverá ficar pronto este ano o novo edifício-sede do governo da cidade de Maputo. Aqui. Temos, então, um Estado tentacular, oneroso, a ampliar a sua rede de acção ante o Conselho Municipal da cidade. Em Maputo e em todas as capitais provinciais do país. Em Abril de 2008, o então edil da cidade de Maputo, Eneas Comiche, teve a coragem de afirmar que a dupla administração "dilui as responsabilidades, tanto da edilidade como do Governo da cidade, podendo futuramente prejudicar o desenvolvimento harmonioso e integrado da urbe como um todo." Aqui.

Beleza em filigrana

Racismo, etnicismo e xenofobismo (13)

Mais um pouco desta série.
A conjunção dos dois fenómenos sugeridos no número anterior – tendo como diagonal digamos que a sul-africanização dos nossos potenciais xenofobistas - pode ampliar a consciência, real ou imaginada, da penúria, pode ampliar a intensidade e o impacto de fenómenos de intolerância como os que se seguem:
1. Em Agosto de 2006, residentes dos bairro T3 na Matola chamaram curandeiros para descobrirem os assassinos que supostamente aterrorizavam o bairro, face à crença na ineficiência da polícia. Aos curandeiros foi dado um prazo de 15 dias para encontrarem uma solução e revelaram a identidade dos criminosos. O dedo acusador foi apontado aos estrangeiros do Zimbabwe e dos Grandes Lagos, capazes, segundo os residentes de T3, de se transformarem em gatos, ratos e cobras para violarem mulheres na calada da noite e matarem cidadãos com o fito de lhes extrair sangue para operações mágicas.
(continua)

Indicadores suspeitos e comoção popular (6)

Acima um extracto de uma notícia inserta no "Diário de Notícias" e no "Notícias", respectivamente aqui e aqui.
Mais um pouco desta série.
No número anterior propus-vos que o fenómeno fosse analisado a partir de três vectores: 1. O vector da inquietação social provocada pelo tráfico e, especialmente, pelo rumor sistemático; 2. O vector da compensação simbólica através da transferência de causalidade; 3. O vector do oportunismo.
O tráfico de seres humanos é uma realidade no país, realidade que, com uma equipa, mostrei no livro Tatá papá tatá mamã.
O tráfico tem provocado comoção social, medo e desejo de vingança. Comoção, medo e desejo de vingança podem dar origem a outros tipos de fenómenos reactivos, entre os quais proponho quatro: generalização, falsa identificação, essencialização e projecção retrospectiva. Esses quatro fenómenos desencadeiam o que chamo compensação simbólica através de transferência causal.
Disso falarei proximamente.
(continua)

Técnica

X é problema delicado, Y o indiciado de ser o responsável. Se o problema for alargado no sentido X...n, mostrando-se que X não é o único problema pois que há problemas n do mesmo tipo e, até, bem mais graves; e se se ampliar a extensão da responsabilidade no sentido Y...n, mostrando-se que existem n causadores de problemas do tipo X, especialmente de âmbito internacional, com consequências bem mais dramáticas, então consegue-se disfarçar o incómodo de X e a responsabilidade de Y. Se há X...n problemas e Y..n responsáveis, por que razão se haveria de singularizar o X e o Y em causa? Telhados de vidro há em todo lado, é problema global. Por aí caminham os técnicos da despistagem social, bons estudantes de Nietzsche, que um dia disse isto: "Não há factos, mas somente interpretações". Essa técnica pode tornar-se ainda mais sofisticada quando em lugar de  se admitir uma culpabilidade caseira, pura e simplesmente se defende a inexistência de X e, portanto, a inocência de Y.

Sobre os fumos da Mozal (4)

Último número desta série.
Procurei, de forma breve, mostrar-vos alguns primas a propósito da Mozal.
Agora, a nível global: é frequente a concepção de que os ambientalistas são seres tenebrosos que, porque ao serviço de interesses obscuros, tudo fazem para impedir o desenvolvimento nacional. Esse é um prisma que podemos encontrar a vários níveis. A ideia central parece ser a de que o desenvolvimento merece que certas coisas sejam sacrificadas. Colada a essa ideia, parece haver uma outra, a de que os ambientalistas são promotores de um utópico regresso às origens.
Talvez um dia eu me decida a analisar os prismas em torno do ambiente.
(fim)

26 julho 2010

O pardal que ama ser fotografado

Postagens da forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Diversos
* Séries: Sobre os fumos da Mozal (4); Indicadores suspeitos e comoção popular (6); Racismo, etnicismo e xenofobismo (13); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

Cartun de Zapiro

Aqui. Sobre Zapiro, aqui.
Free Translation