26 dezembro 2009

(148) 26/12/09

De político fracassado desde que envederou pela carreira política, o jurista Carlos Jeque transformou-se em analista político, com lugar garantido na "Rádio Moçambique" e no "Notícias" e especialização na detecção das falhas dos partidos da oposição. Antigo membro da oposição, é hoje um seu crítico sistemático e um apoiante entusiástico do partido no poder. Candidato presidencial e autárquico vencido, é hoje um crítico severo dos vencidos. Definitivamente ganhou a mesma visibilidade que o Homo Sibindycus. No "Notícias" de hoje, o jurista surge a exibir a sua grande sabedoria em grande entrevista, a mostrar quanto a oposição está uma desgraça. É especialmente eficiente a responder a questões perspicazes do género "NOT. – Comparativamente a 2004, estas eleições foram mais participativas…" ou "NOT. – Mas também é obrigação dos partidos, principalmente dos concorrentes, saberem o que a Lei diz. Não acha?" A conferir aqui.
Adenda às 8:50: sugiro que se preste atenção à forma como o entrevistado analisa o MDM, o mais jovem partido político do país. Ao contrário de Jeque (que, claro, sempre teve objectivos claros quando em 2003 concorreu como candidato autárquico pelo IPADE na cidade de Maputo obtendo 2,01% de votos; e como candidato presidencial em 2004 obtendo 0,70% de votos), o MDM não teve nem tem objectivos claros, é uma completa nulidade, nada dele se aproveita, apesar de, apenas com alguns meses de vida, ter obtido oito deputados em apenas quatro autarquias (foi excluído de nove círculos eleitorais, coisa que o analista não considera) nas legislativas deste ano. Facto ainda mais curioso: Jeque não fala de Deviz Simango, que obteve quase 9% do total de votos nas presidenciais também deste ano.

1 comentário:

ricardo disse...

O sr. Jeque é um dos muitos políticos falhados da gesta de 1994, que malograram na sua tentativa de fazer "oposição" diversionista e elitista.

Um grande "opositor" do regime, que sempre foi muito bem recebido em Luanda, onde por algum tempo trabalhou na Banca.

Penso que é um erro comparar a UD ao MDM, se ainda estivermos lembrados das circunstâncias com que muitos dos votos foram parar À UD em 1994(posicionamento no boletim de Voto) rapidamente se concluiria que a UD deixaria de existir no pleito seguinte. O que efectivamente aconteceu. Lembro-me, nomeadamente, do slogan "Vote no primeiro..." que promovia indiscriminadamente nas legislativas a UD e nas presidenciais um candidato presidenciável. Não me lembro bem agora se foi o Vencedor, mas isso está documentado.

Ora, com o MDM, percebe-se algo bastante diferente. Se Jeque não nota, eu percebo. O eleitorado urbano, sobretudo nas maiores cidades do país, já não é incapturável. E isso tenderá a acentuar-se, porque a FRELIMO não será capaz se purificar a todos o níveis.

Porque não se pode pedir aos promotores da sujeira para serem os maiores defensores da limpeza. É um contrasenso.

Independentemente da Síndrome de Estocolmo se ter instalado neste país e ditar o modo como nos posicionamos intelectualmente na sociedade.

Possivelmente, o eleitorado fora das grandes urbes ainda seja (e muito) capturável. Mas a FRELIMO também trabalha para isso, com base, na própria experiência Renamista de controlar aquela população. Sete milhões de meticais + demagogia e alguns pássaros de ferro ruidosos, impressionam muito mais do que um líder desacreditado e com ameaças sazonais de "guerra", num permanente disse que não disse, que haveria dito, o que não tinha dito que disse.

E assim deverá sê-lo por muitos e longos anos, porque a RENAMO, está acabada. E a única recordação possível que se tem dela é uma guerra, a qual, já terá muito pouca capacidade de fazê-la, sendo que, infelizmente para muitos, a inflexão disto só sucederá depois de Dhlakama desaparecer fisicamente, o que não se espera para breve.

Não se enganem os politólogos part-time, como o sr. Jeque, pois representa hoje o MDM, maior ameaça à dialéctica da FRELIMO, do que a RENAMO alguma vez o foi. Porque a FRELIMO perde cada vez mais intelectuais. Em seu lugar, temos visto a ascenção de tecnocratas e situacionistas. Os verdadeiros intelectuais da Frelimo, ainda são os da geração libertária, que não se renova nunca mais. Alguém se lembra do que sucedeu a Hélder Muteia? E a RENAMO nunca os teve em quantidade e qualidade de rivalizar com o poder instituído, situação que a FRELIMO sempre tentou preservar.

A história da Humanidade mostra-nos que são os intelectuais quem desencadeia processos fracturantes. As massas, são apenas um instrumento conduzido por ela.

Penso que todos sabem de que é que estou a falar...