10 agosto 2009

Mabote e a abolição dos exames de admissão

Falando em Quelimane, o presidente do Partido Trabalhista, Miguel Mabote, defendeu hoje a abolição dos exames de admissão às universidades públicas (Rádio Moçambique, noticiário das 18 horas). Este político já defendeu a tese de que os Moçambicanos não estão preparados para a democracia multipartidária.

19 comentários:

Nelson disse...

Será que Miguel Mabote sabe e bem(claramente) oque são exames de admissão à universidade e oque se pretende com eles?
Aposto que estava diante duma audiência estudantil aspirante ao ensino superior e quis somente ganhar simpatia. Com um ensino secundário débil como o nosso imagine senhor candidato às presidenciais se todos mundo que quiser/poder, entrar para universidade sem nenhuma seleção? Se mesmo com os exames de admissão temos muita “palha” lá nas faculdades, imagine sem eles(exames de admissao?
Alinha senhor Mabote com as passagens automáticas do ensino básico? Pois me parece que o espírito é o mesmo.
Nesse periodo eleitoral seria bom que os candidatos pensassem bem antes de abrir a boca.

Reflectindo disse...

Para eu não repetir o que o Nelson disse, e agora acrescentando, qual seria o critério de ingresso no ensino superior? Cartão do PT? Do Partidão?

Jornadas Educacionais disse...

Caro Nelson

Não sei se na sua fala, você defende a meritocracia. Ainda neste mês está em discussão, neste blog, a teoria da reprodução social de Pierre Bourdieu e seu reflexo na educação escolar.

Os exames de admissão, se ainda se lembra, foram instituídos nos finais dos anos 80 no Sistema Nacional de Educação pós-independência.

Coincidentemente, quando da introdução desse mecanismo de seleção de acesso ao ensino superior, o país havia mudado de projeto político-econômico e também social, com a assinatura dos acordos de ajustamento estrutural.
É um simples acaso? Penso que não. Deveriamos pesquisar um pouco mais para entendermos a lógica excludente que está por detrás do exame de admissão no Moçambique "neoliberal" (sic), em que o artigo 7 da Lei 4/83 de 23 de Março, que versa sobre gratuidade, por exemplo, do ensino básico, desapareceu na Lei educacional 6/92 de 6 de maio de 1992, que ajustou à primeira visando adequá-la ao novo contexto.

Penso que os exames de admissão podem estar dentro da lógica da minimização do Estado moçambicano no campo educacional, provavelmente, como exigência dos acordos firmados com aquelas agências multilaterais. Dado que a educação foi considerada, na legislação moçambicana, como direito e dever do cidadão, então, o Estado não tem que se preocupar "bastante" com o acesso. Cada um, no contexto de liberalização, que busque outras formas de entrar no ensino superior, caso não consiga passar nos exames de admissão para a Universidade Pública que é para poucos e não para todos.

É assim que eu vejo os problemas. Não sou apologista do fim dos exames de admissão, mas sim, de acesso de todos à Universidade Pública, conforme é afirmando no artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Posso estar errado.

Não desmereço o problema por você levantado referente à fraca qualidade da educação básica (ensino primário e o médio) de Moçambique. O problema merece outra atenção de pesquisas para compreendermos o que, de fato, está em causa.

Abraços
Tony Cipriano

Abdul Karim disse...

caros,

nao sou especialista em educacao, mas acho que o nosso sistema esta nivelado por baixo, e ao abolir-se exames de admissao agora, baixamos mais.

se nao vejamos: ensino basico esta com dificuldades ate de ensinar o basico(ler e escrever), ensino medio, nao ensina a "mediar"(questionar, analizar, equacionar) e chegam as universidades pessoas que "nem sabem fazer uma carta" e saiem diplomados os doutores que pensam que sabem tudo.

resultado 'e este que estamos a ver, estanca o desenvolvimento do pais, e andamos com indicadores macroeconomicos desjustados a nossa realidade e a mostrar que somos o que nao somos.sem conseguirmos sair da CAUDA DO MUNDO, e ainda sentirmo-nos MUITO ORGULHOSOS por isso.

claro que os exames de admissao poderao ser abolidos, mas tal decisao so faria sentido se conseguissemos nivelar por cima, ou seja o ensino basico e medio melhorassem consideravelmente a QUALIDADE.

tambem o ensino superior, nao pode estar dependente das decisoes politicas e ainda pior quando o reitor duma universidade,'e nomeado por alguem que nao tem conhecimento , nem competencia para o fazer (do ponto de vista cientifico), como actulamente sucede no nosso pais, onde o PR 'e que nomeia o reitor da UEM.

portanto, acredito que educacao devera ser vista de base, melhorada de base, e avancarmos gradulmente para cima em funcao da melhoria de QUALIDADE na BASE.

a nivel do topo, concordo com o programa do MDM relativamente a diminuicao das competencias do PR no que se refere a nomeacao do reitor da UEM, alias deveria ser algo que a FRELIMO devia COPIAR. se 'e mesmo para COPIAR,devemos pelo menos tentar COPIAR o que VALE A PENA.

Jornadas Educacionais disse...

Abdul Karim
O problema da nossa educação, se assim posso afirmar, é estrutural, é todo um sistema, nos seus principais fundamentos, que está ruindo ou foi mal concebido.

Então, não se resolve através dos exames de admissão. Essa é uma forma de sancionar as desigualdades sócio-econômicas, típicas do Estado capitalista. Quando éramos "socialistas" não precisavamos dos referidos exames. Além da orientação política, também éramos poucos com o nível médio concluído. Os exames de admissão apareceram no contexto de adesão aos princípios neoliberais, em que uma das marcas foi o descaso ´para com as questões sociais, dentre as quais a educação.

Para dar um exemplo, veja o processo de formação de professores (eles que garantem, em certa medida, a qualidade de ensino). Passou-se do esquema 9ª+3 para 10ª+2 (os IMAP´s) e agora 10ª+1. Muito recentemente, a UP começou a oferecer cursos 12ª+1. Os Licenciados da UP, no lugar de irem para o nível médio, começaram a reivindicar a docência para o nívle superior. O sistema admitiu, pois, abriram-se tantas universidades sem se pensar numa política de formação de professores para actuarem nas Universidades. Somente há dois anos, o Ministro da Ciência e Tecnologia começou a se preocupar, tendo estabelecido a meta de formar, até 2015, 6000 mestres e doutores. Tá dando certo com as bolsas de estudo e o acordo firmado com o MCT do Brasil de oferecer 50 vagas anuais para o mestrado e o doutorado. Não estou desqualificando os professores que atuam em nível superior sem mestrado.
A qualidade da educação faz-se, dentre muitas ações, com professores altamente formados. No nosso caso, os que deveriam estar a imprimir uma dinâmica no ensino básico, estão no nível superior, muitas vezes apenas como repetidores do que os mestres lhes disseram e não como produtores de conhecimento. Além da turbulência, boa parte deles nem sequer entende dos problemas ciêntificos e possuem poucas ferramentas de produção do conhecimento. Existem os que superam esses problemas e dão a sua contribuição. Enquanto isso, temos professores com apenas um ano de formação específica, principalmente em metodologias de ensino, encarregues de ensinar o A+B+C às nossas crianças nas escolas primárias. No interior, há professores com apenas 12ª classe dando aulas também para as 12ª. Os que foram formados para esse nível se recusam a lá estarem, porque são "doutores".

Como garantir a qualidade nesses termos?

Continua....

Jornadas Educacionais disse...

Abduk Karim: dando continuidade


Voltando aos exames de admissão: você, parece também defender a seleção para o nível superior, porque o ensino básico está mal. Então, somente os melhores podem entrar. Eu entendo que existem os melhores, mas também há necessitados que, frequentando uma boa escola básica, e com relativo apoio, também poderiam ser melhores.

As desigualades sócio-econômicas que devassam Moçambique, fazendo uso das expressões de Bourdieu, sancionam a entrada no ensino superior. É simples de entender: quem tem poucos meios financeiros, tem dificuldade de acesso à dita "alta cultura". E o exame de admissãà UEM exige o conhecimento dito da cultura geral, apenas disponível para quem tem acesso à informação, neste caso, com condição sócio-econômica favorável. Os pobres, mesmo que tendo algumas capacidades, são os mais penalizados neste caso. Lembra-se da decisão do professor Mazula que caminhou no sentido de ações afirmativas na UEM e que gerou muita polêmica? Seria interessante acompanhar o desempenho acadêmico dos estudantes que entraram por "mão" do Reitor e ver até onde eles são fracos acadêmicamente. Estes alunos que entraram por "misercórdis",devido a sua condição sócio-econômica, eram apenas sancionados e excluidos pelo exame de admissão, não é porque não tinham capacidades. Desafio aos meus compatriotas que realizemos uma pesquisa nesse sentido. Caso não haja quem se disponha a coordenar, eu me encarrego de fazê-lo.

Não é o exame de admissão que vai resolver um problema, haja vista que a sua introdução não foi ingênua. O exame mais exclui o gozo a um direito humano, neste caso, o de acesso à educação superior pública. É necessário repensar a política de educação de moçambique no seu todo.

Abraços

Unknown disse...

Nelson, pensar na qualidade de ensino tendo como ponto da mira "passagens semi-automáticas" acho uma análise simplista e precipiada. calma!... já digo porque!

Ora, haverá alguma relação entre as reprovações e a qualidade?

Se há muios factores que influenciam a qualidade de ensino como a qualidade do Professor, Racio professor aluno, salas de aulas etc... manter o aluno seria solução para a qualidade?

caros, o exame de admissão não é específico e apenas para a qualidade mas sim para excluir. como é que nos explica Nelson que dentro do contexto dos examens de admissão haja acesso com uma nota que varia de 2 a 5 em deternimento dos 11 e 12? "Unidade nacional" o que é que a qualidade tem que ver com a unidade nacional? está claro que dentro dos meios que despomos deve haver equidade e justiça de forma a se respeitar o artig.88 da CR.

Eu acho que o ensino não deve ser partidarizado e ném os políticos não devem coptar os académicos por promeças impossíveis...

Jornadas Educacionais disse...

Chacate

Este problema de nota de que você fala não é tão simplista. Penso que o termo unidade nacional pegou mal,mas vendo as coisas pelas experiências de outros países que embarcaram nas políticas de ações afirmativas, acredito que a ideia era a mesma: facilitar os desfavorecidos no acesso ao ensino superiro, devido à condição sócio-econômica, muitas vezes explicada, historicamente, no nosso país, pelas desigualdades regionais.

A decisão e o tema são polêmicos, com certeza. Mas até hoje não consegui entender porquê, por exemplo, que em toda a escola secundária Samora Machel na Beira, apenas passavam, no máximo, três a cinco alunos de todos os que se candidatvam aos exames de admissão à UEM? Éramos todos burros? Acho que não.

As vicissitudes históricas levaram-me a deixar o país e, para piorar, tive que prestar um exame de admissão muito concorrido, também num contexto de exclusão educacional. No lugar de duas disciplinas, é exigido que o aluno preste exame de todas as disciplinas do nível médio (09)Resultado: melhor desempenho e aprovação em frente dos naturais. Cai na real que não era burro não.

O sistema em Moçambique sanciona as desigualdades, isto sim. Aquela fórmula adotada acredito que era para reparar a injustiça cometida contra outras regiões no acesso ao ensino superior.

Abraços

Reflectindo disse...

Caro Cipriano, caros

Primeiro, concordo contigo Cipriano em muito que dizes.

Segundo, também concordo que hovesse um estudo sobre os resultados da política de admissão de Brazão Mazula. Mas também tinha que ser aliada às razões que o fez tomar aquela decisão. Isto é, porquê os que mais reprova/vam são oriundos das províncias. Como são distribuídos os meios de ensinos, incluindo o corpo docente?

Terceiro, repito a questionar-me sobre como seria o critério de ingresso no ensino superior e não menos em cada universidade. Supondo que muitos podem querer entrar na UEM em Maputo, todos os teriam lugar? Afinal qual é o objectivo dos exames de admissão? Será que realmente é o sistema capitalista, visando excluir as camadas sociais mais pobres ou eles pretendem imparcialidade nos ingressos ao ensino superior quando o número de concorrentes é superior às vagas disponíveis? Eu concordo que se podia atribuir ao sistema capitalista e ao nosso selvagem se não houvesse preocupação para mais instituições do ensino superior, mas é o contrário, nos últimos anos criaram-se muitas e em cada província e até já chegaram às pequenas cidades, mesmo sem instalações adequadas, sem professores nem bibliotecas e para não falar de laboratórios.
Exames de admissão até para ingressar no ciclo preparatório do ensino primário terminaram no ano lectivo 1974/1975 (se não estou em erro) quando o país se tornou independente. A principal razão de exames de admissão era a falta de escolas suficientes a partir daquele nível. O sistema colonial capitalista não contava connosco que iamos concluindo a quarta-classe sobretudo das escolas das missões. Mas também havia um outro problema que de fundo era o que mais excluia aos filhos dos pobres – as propinas mensais. Talvez o valor não fosse o mesmo em todas escolas, mas no ciclo preparatório de Namapa, em Nampula se pagava até 1975, 100 escudos por mês. Isso vivendo fora da escola. Imagine-se naquela altura e isso para o nível correspondente ao actual EP2, quantos filhos de camponeses podiam estudar. A minha própria experiência, dita que é mais razoável ao que está no manifesto do MDM: Compromete-se a criar o serviço de acção social escolar em todas as instituições públicas e/ou privadas do ensino superior de modo a assegurar a igualdade de acesso a este nível por parte dos estudantes carenciados, oferecendo maiores oportunidades de bolsas de estudo.
Não sou apologista de exames de admissão apenas vejo como um dos meios de selecção (a seleccão existiu mesmo na era socialista) para o ingresso para vagas mais concorridas. Por outro lado os exames de admissão não precisam de ser o único meio. A nota final na 12ª classe, a experiência laboral, o serviço militar podem melhorar a nota obtida nos exames de admissão. Suponhámos que se decreta que o serviço militar, 5 anos de experência laboral dê a 5 valores que se podem adicionar aos exames de admissão.

Finalmente, sou da opinião que deviamos fazer recuar os nossos políticos para se concentrarem no ensino primário, básico e secundário. Nenhum país se desenvolve com população maioritariamente com o nível superior, mas população que sabe ler e escrever. Só pela concentração para um ensino superior, estamos em Moçambique a construir um sistema de exclusão, estamos a criar castas. Porquê não estarmos a falar de uma escolaridade obrigatória pelo menos até ao nível da 5a classe eu preferia a 7a classe? Falo aqui de escolaridade onde todas e todas as crianças têm por obrigação frequentá-la e o Estado a obrigação para a criação das condições em que o aluno tinha que sair como aquele da 4a classe que podia ensinar até a 2a classe sem grandes problemas.

Abdul Karim disse...

mais uma vez, claro, Jornadas Educacionais.

apenas um ponto.

eu nao defendo seleccao para o nivel superior, mas, tambem nao concordo com nivel superior sem nivel.

o que quero com isso dizer, 'e se tivermos a base (basico) com melhor qualidade, o ensino medio deve ser "obrigado" a melhorar, como consequencia, chegam a universidade alunos melhor preparados.

o que nao concordo, 'e no basico nao saberem ler nem escrever, depois para corrigir, adaptarmos o medio em funcao da ma performance do basico, e ja no superior, andarmos a certificar "doutores" sem capacidade sequer analitica, visto ja terem vindo mal desde da base. e ainda pormos esses "doutores" nos lugares criticos, onde se espera que produzam.

vao produzir como? e ainda fica muito complicado voce dizer a esse "doutor" que nao faz sentido o que ele quer, e ele estampar-te com um "cirtificado" que na optica dele certifica conhecimento.

estou a tentar explicar algo pratico, acontece todos os dias em Maputo. exp: temos profissionais de MKT que fazem responsabelidade social irresponsavel.

entao "voce" divulga uma campanha de responsabelidade social para consciencializacao do HIV com espetaculos na praia com distribuicao de alccol e no dia seguinte a praia esta toda suja de vidro, e os numeros de HIV disparam?

isso 'e ser "doutor" mal formado e o pais paga as consequencias bem caras dessa asneira.

mais uma vez, nao vejo a questao do ponto de vista de selecao ou nao para o ensino superior, vejo na optica de elevar a qualidade de ensino para contruir uma base solida para crescimento sustentado do pais.

posso naturalmente estar errado,mas, 'e o que me parece ser a solucao.

agora como se vai elevar a qualidade de base, naturalmente que como e bem disse, melhorando o nivel de professores e o racio de alunos/professor, entre outros aspectos, ai quem deve criar esse programa, deve ser o ministerio de educacao em cordenacao com a comunidade academica.

so que ai batemo-nos com o problema da lideranca
da universidade ser imposta nao pela comunidade academica, mas, por alguem que cientificamente nao 'e competente nem tem conhecimento para tal.

entao temos educacao politizada, retrogada, que gera subdesenvolvimento, pobreza, doencas, miseria, confusao.

veja-se agora o conflito sobre a reforma do ensino superior: por causa da SADC, vamos "diplomar" mais rapido, nao interessa se sabem, nao sabem, aprenderam mal ou bem, mas SADC tem que andar porque gente ai pensou que tem que ser assim, e a comunidade academica tem que vir atraz ao invez de liderar o processo nao so do ponto de vista educacional mas ate no contexto da SADC.

alias, a UNIVERSIDADE SUL-AFRICANA, tem no seu documento relativo 'as causas de "xenefobia" recomendacoes relativas 'a SADC.

plantamos mal, e depois queremos remendar a arvore, e ainda esperar frutos maduros.

numa situacao destas fica muito complicado.

e bem, repensar toda politica de educacao.

Jornadas Educacionais disse...

Caro Refletindo

Agradeço as observações, somente neste debate de ideias poderemos crescer. Certamente, as nossas concepções de mundo influenciam as nossas análises.

Vamos ao conteúdo do debate. Começo pelas tuas últimas falas.

Meu caro, tanto a Lei educacional 4/83 de 23 de Março de 1983 quanto a Lei educacional 6/92 de 6 de Maio de 1992 e também segundo escrevi no bantulândia, foi publicado no jornal notícias de 4 .12.2008 e agora no meu blog www.jornadaseducacionais.blogspot.com (peço desculpas ao professor Serra pela publicidade), está afirmado que em Moçambique o ensino básico é obrigatório. Até aqui, tudo bem.

Porém, o conceito de ensino básico mudou em Moçambique quando do reajuste da Lei 4/83 de 23 Março pela Lei 6/92 de 6 de Maio. Até 1990, a educação básica ia até 9ª classe. Mesmo o SNE não deixava claro o que se entendia por ensino básico. Ora, em 1990 Moçambique caminhava em outra direção e também no mesmo ano foi definido, na Conferência de Jointem, a obrigaoriedade da educação básica, como efetivação do direito humano à educação.

Em Moçambique, nesta mesma altura, o mudou-se o conceito de educação para o de ensino (esta mudança está no projeto de reajustamento da Lei 4/83 de 23 de Março, depositada na Assembleia da República). A justificativa apresentada foi a de que o Estado apenas se passava a se preocupar pelo ensino, entendido unicamente na dimensão intelectual, deixando para outros atores a preocupação com outros aspetos da educação(Sic!). E o ensino básico passou a corresponder as 7 primeiras classes, mas também bipartidas em EP1 e o EP2 com uma desproporção das escolas em cada um dos níveis.

Além dessa mudança conceitual, outro fato a registrar é que a obrigatoriedade do ensino básico, tanto na Lei 4/83 quanto na Lei 6/92 foi condicionada ao desenvolvimento econômico do país. É uma boa justificativa para se justificar a omissão pela obrigatoriedade do ensino básico, mesmo de 7 classes.

Viriato Dias disse...

Pela primeira vez dou provimento as palavras deste político. Penso que mais do que condenar é preciso analisar o discurso e comprar com o contexto actual do mundo. Em quase todas as universidade do mundo (as mais proeminentes) estão a facilitar o acesso aos seus estudantes sem o exame de admissão. A Universidade de Évora foi mais longe em admitir estudantes sem qualquer grau de instrução, mediante uma exame de AFERIÇÃO, se for necessário. Claro, há um certo número de estudantes que é permitido. Tal medida é justificada para aquelas pessoas que, por qualquer motivo relacionado com os serviços, não puderam estudar e que a UE dá-lhes agora esta oportunidade. E muita das vezes estes revelam-se mais inteligentes que os que estiveram 12 anos nas carteiras. É um exemplo a ter em conta, mas não a seguir, e digo porquê.

Porém, para o caso moçambicano, tal medida só pode ser tomada se ele, o Sr. Mabote, conseguir em tempo recorde acabar com o actual labirinto do nosso Sistema Nacional de Educação que, na minha modesta opinião, é uma VERGONHA e urge combater. O problema não está no acesso, até porque o direito a educação é bem consagrado a todos os moçambicanos (...) pela Constituição República e não se pode recusar. O calcanhar de Aquiles está nos ciclos inferiores a este, desde a passagem automática, a má preparação dos corpo docente, desde directores e outro pessoal escolar, a falta de laboratórios nas escolas, escassez de manuais de ensino, deficiência de material de ensino, enfim, corrupção generalizada, burocracia e a irresponsabilidade. A contratação de docentes deixou de seguir os critérios básicos, de “um professor, um pai”, passando o professorado a ser um refugio muita das vezes aos marginais. Aqui está o problema.

Se o Sr. Mabote conseguir em menos de 3 anos, dos 5 no poder, arrumar a casa, digo, o Sistema de Educação, pode até ter êxitos nos seus planos, o que lhe valerá no mínimo trombose, visto ser uma área muito sensível em que a CRRUPÇÃO é um mandamento.

Um abraço

Jornadas Educacionais disse...

Refletindo:

Sobre o teu terceiro ponto, vou tecer algumas considerações apenas:

Estudos em Sociologia da Educação já há muito vem mostrando que as provas não são imparciais. E quando se trata de exame de admissão, não existe neutralidade.Não vou repitir Bourdieu. Uma pergunta pertinente seria pelas condições de aprendizagem, por exemplo, na Escola Secundária Josina Machel em Maputo e as de aprendizagem na Escola Secundária de Ulóngue na Angónia. Você acredita que os estudantes egressos do ensino médio,nestas duas escolas, têm o mesmo ponto de partida para concorrerem à Universidade Pública, haja vista o sistema centralizado dos exames de admissão mesmo para a UP?
Este ano por exemplo, por mais que se tenha criado a Unilúrio, o estudante em Maputo fazia o mesmo exame tanto para a UEM quanto para a Unilúrio, indicando apenas a primeira e a segunda opção, respetivamente.

Veja, um estudou em Maputo, em condições de acesso à informação e á cultura bastante privilegiadas em relação a quem sai de Angónia. E você exige que os dois façam o mesmo exame de admissão. Não será uma exclusão silenciosa?

Aproveito a deixa de Abdul Karim: o nosso problema é também cultural: sermos todos doutores. Não condeno a igualdade educacional, mas a verdade, os estudos em nível superior são para quem tem vontade de investigar e não apenas de ganhar dinheiro. Acabamos tendo engenheiros fazendo o trabalho de técnicos, no lugar de estarem a conceber e a pesquisar para melhorar os engenhos.

Eu sou a favor da ideia da Escola Unitária, aquela defendida por Gramsci: levar todos os alunos até aos umbrais da escola média, equilibrando a formação técnica e a intelectual. Após isso, cada um veria o que deseja fazer em frente: ali sim, todos tiveram a educação básica (até o ensino médio) igual, com igual oportunidade de formação. E que o diploma superior não seja fator de desigualdade de salário e nem fonte de privilégio sem merecimento. Talvez assim veriamos reduzidos os números dos desempregados instruídos e o país teria algum desenlvolvimento tecnológico de fato.

Abraços

Reflectindo disse...

Jornadas Educacionais

Confesso que temos as mesmas conclucões e questionámo-nos por mesmas coisas. Quanto à decisão Mazula eu fazia as mesmas questões.

Quanto ao ensino obrigatório também não preciso dizer mais por vc já bem explicou que ainda não o temos em Mocambique. Conheco perfeitamente o que é ensino obrigatório e por essa razão, digo que não é possível afimarmos que o nosso ensino básico é obrigatório quando criancas ficam de fora.

Sem dúvidas, sou também a favor da Escola Unitária. No imensis sempre defendi essa escola que a maior preocupacão pelo ensino superior. Para mim é injusto quando há muitos compatriotas que ainda não podem ler e escrever.

Vou espreitar as suas referências.

Abraco

Unknown disse...

Hehehe!... nunca faltou cabeças para pensarem gratuitamente em Moçambique estou gostando.

De facto não vejo a razão porque não potenciar o ensino básico 7ªclasse e técnico pelo menos até 10ª classe!

Entretanto, modestamente não vejo o mal das semi-automáicas no que tange à racionalidade; não vejo o mal da redução do tempo (já defendi esta posição a quando da UEM e as "Bolonhadas")quando à medida enque vamos progredindo com os níveis de ensino a responsabilidade do docente vai se reduzindo o estudante torna-se cada vez mais auto-didácta!

Orá, 10+1 e 12+1. aqui também a minha posição é bem conhecida (creio) vamos vizitar os currícula. quanto tempo precisariamos para dar métodos de ensino?
concordo com o resto.

Pai da Cleide disse...

Sem querer descordar com os que, a semelhanca de mabote, defendem abolicao de exames de admissao. Mas sabe-se o pais nao tem universidades publicas com vagas suficientes para todos os graduados de nivel Medio.

Ajudem, portanto, caros colegas. Qual seria o criterio de seleccao dos que sao admitidos nas universidades, e dos ficam por fora?

Eu entendo que antes de servir como filtro dos melhores estudantes, os exames de admissao servem para selecionar os que podem entrar no ensino superior, e os que nao podem, mas nao em função do nivel de conhecimento, mas sim pela questao da própria quantidade de vagas.

No ISRI, minha universidade, admite-se 60 novos ingressos por ano, para o curso de Relacoes Internacionais por exemplo. mas se candidatam mais de 3 mil aspirantes.

Sem exame de admissão, quel seria o criterio de seleccao dos que entram e dos que nao entram? seria por ordem de quem chegou primeiro à inscricao?

Salvo opnião mais convicente, penso que os exames de admissão são necessários, pelo aspecto que me referi, e contunuarão necessários, pelo menos dentro dos próximos vinte anos.

Mas bem, o Mabote e seus apoiantes, devem ter ideias brilhantes de construir universidades suficientes para todos, quem sabe, tem fundos para tal.

Votemos nele para ver o milagre do Mocambique ideal.

Jornadas Educacionais disse...

Chacate

Primeiro, uma pergunta: levando em consideração que o signficado das palavras depende do uso que delas se faz em cada contxto, QUAL O SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO "PENSAR GRATUITAMENTE"? Acredito que não seja pejorativo, tal como se faz o uso da expressão "inferência gratuíta" no campo da lógica? Ou é mesmo neste sentido?

Segundo: você acredita que formar um professor, com bases sólidas sobre a docência, se resume à ensinar as metodologias de ensino? A educação se fundamenta numa concepção de homem e de sociedade, no âmbito das correlações de forças que atuam em determinado momento histórico. O professor tem a responsabilidade de introduzir os mais novos no mundo que, per si, é novo para os que entram pelo nascimento; reduzir a formação do professor à técnicas de ensino não é o mesmo que dizer a ele para ensinar as crianças na arte de viver e não de dizè-las como o mundo é?

Lanço mais um desafio de pesquisa: investigarmos o perfil sócio-cultural do professor do ensino básico em Moçambique. Talvez iremos descobrir que a nação momçambicana está em coma, com esses professores, cuja formação é precária; possuem báses duvidáveis do ensino geral e, para ser professor, aprende apenas a como ensinar, como se os estudantes fossem objetos manipuláveis; como se não tivessem história, sentimento e concepção de mundo. E o professor, com técnicas de ensino apenas, não precisa de saber disso? Basta apenas saber "transmitir conhecimentos", sem ter clareza dos intereses subjacentes à produção desse conhecimento?

E mesmo assim continuamos a reclamar, sem ir ao campo, da qualidade do ensino em Moçambique.

Sobre o processo de bolonha: saberia me dizer quais os reais interesses que estão por detrás disso? O que leva a UE a criar um Espaço Europeu do Ensino Superior?

Porque nós não nos damos ao trabalho de criar um espaço austral-africano do ensino superiro, haja vista os desafios de competção através da formação de blocos regionais? Onde fica a questão pós-colonial nessa história?
Continuemos o debate, sem ofensas, cada um defendendo os seus pontos de vista!

Abraços

Unknown disse...

Meu caro Jornadas Educacionais, devo lhe tranquilizar "Pensar Gratuitamente" é no seu bom sentido, está relacionado com o facto de boas ideias capazes de mudarem o nosso estágio (desenvolver) socio-económico sem se pagar muito dinheiro! tem ideia de quanto custa dar ideias quanto as que circulam na blogsfera Moçambicana? mas ainda contratamos consultores extrangeiros quando se trata de USD! é por aí mano.

Com relação ao seu 2º ponto os meus pronunciamentos tem como sapata os mais recentes estudos segundo os quais um dos problemas de educação é o excesso de professores sem formação psicopedagógica. Ora, sendo assim um estudante de 10ª ou 12ª o que lhe falta é esta componente didáctica e julgo que em um ano é possível sanar esta lacuna! indo mais fundo da sua preocupação é simplismente não esquecer que o professor é membro da mesma sociedade que o aluno. Portanto a qualidade de ensino é solúvel com técnicas sim e da Educação como tal pela componente pertença do professor e do formando à sociedade.

Em relação às "Bolonhadas" o Padre nunca me conveceu por que mesmo ao nível da medicina os cientistas não concordam que a medicina tradicional pode ser um maior condributo para a área deles continuamos a repitir teorias e replicar formas já existente espera para ver o remédio da cura do Sida só virá do ocidente apenas porque ignoramos as nossas potencialidades em benefício de doações (Lula da Silva tem razão)!

O moderador é o Prof. Carlos Serra mas sinto que estamos a ser específicos, portanto retomando o tema, a questão de exames de admissão para mim não é indispensável porque há outros factores a considerar no acesso à universidade por exemplo a idade, nota da 12ª e tantos outros factores não o exame de admissão se considerarmos que Moçambique possui um "sistema de ensino".

Reflectindo, este assunto é sério! não desdealoguemos supomos que os académicos Moçambicanos são sérios e imparciais. outrossim é que os Partidos deveriam começar a buscar o que é bom dos outros exemplo: gostei da ideia do MDM de não eleição dos reitores... boa ideia.

Chacate Joaquim disse...

Adenda:No meu último comentário onde vem ... Não eleição... fina ...não nomeiação... obrigado