10 outubro 2008

Linchamentos: como desarmar as mentes armadas? (2) (continua)

Vamos lá prosseguir um pouco esta série, com algumas breves notas sujeitas a correcção, num tema extremamente delicado.
Os linchamentos em áreas urbanas e péri-urbanas são levados a cabo com duas figuras de imputação causal básicas: roubo ou sua tentativa e crime de natureza sexual.
Em zonas rurais, quase sempre a imputação causal opera ao nível de uma acusação de feitiçaria: o linchado - normalmente a linchada, pois é uma mulher a principal vítima -, é acusado de provocar mortes ou outro tipo de males por estar possuído de um feitiço, de um mal perigoso e irreparável.
No primeiro caso estamos face a um homicida qualificado colectivo, na figura de uma multidão comunitária que executa a justiça sumária normalmente de noite.
No segundo, temos um homicida qualificado igualmente colectivo, na figura de pequenos grupos parentais, operando também de noite.
É relativamente mais fácil ter conhecimento do primeiro caso do que do segundo. No primeiro caso, roubo ou estupro são, em princípio, coisa de partilha pública. No segundo e apesar da sua condição de crença generalizada, feitiçaria é coisa de partilha privada e que deve ser escondida dos olhos externos dadas - assim se acredita - a perigosidade e a contagiedade do feitiço.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parece que povo Mocambicano nao eh tao pacifico como nos gostamos de pensar.

1. Os verdadeiros larapios estao a andar de mercedes e o povo nao diambulam bem longe do povo. Esses sim tiram o pao da mesa do povo.

2. Nao justifica tirar a vida de um individuo so pelo roubo de produtos agricolas. Eu ja vi o caso de um individuo que ficou anos na cadeia pelo furto de uma pasta dentifica.

3. Ha quem diga que tudo tem a ver com a proporcao no crime no ambiente em que eh cometido. Se aquele produto agricola era a fonte de alimentacao para a familia vitima, eh equivalente ao roubo do seu vehiculo e entao a punicao de emprisionamento eh justificada.

4. Ha que entender as motivacoes do larapio no acto praticado - prazer, necessidade, etc. Pois isso determina os moldes de reabilitacao do individuo em analise. Meu Deus, que tretas tou aqui a dizer, as cadeias em Mocambique nao sao centros de reabilitacao, mas puros institutos politecnicos de capacitacao em criminologia.

5. A punicao com a morte eh severa irrespectivamento do tipo de crime.

PS. Na Africa do Sul ha um grito fervente para a re-instauracao da pena de morte. O argumento eh que funciona no Botswana, onde a taxa de crime e proxima a zero - Eu pessoalmente nao acredito que isso va funcionar na Africa do Sul, e tambem acredito nao ser humano tirar a vida de outrem.

Laude Guiry

Carlos Serra disse...

Problema delicado este, o dos linchamentos. Vamos a ver o que consigo dizer na série.