08 julho 2008

O pensamento de Pan Wei

Chama-se Pan Wei, 47 anos, um dos intelectuais mais conhecidos da China, professor de Ciências Políticas, formado em Berkeley, Estados Unidos. Eis, por mim traduzidos, pedaços de um discurso, entre propaganda e reflexão política, divulgado pelo jornal francês "Libération": "Vocês, Ocidentais, nada compreendeis da China. Colocar em oposição democracia e autocracia provém de um obscurantismo político que se desenvolveu após a guerra fria. Muitos Chineses rejeitam essa dicotomia e acreditam que se destina a alimentar a cruzada contra nós. A China não é uma autocracia, mas uma meritocracia. Cada um deve subir na escala social e política dando provas do seu valor. O direito de voto não é universal, temos outros métodos para seleccionar os dirigentes. Não se trata de uma democracia, mas também não é uma autocracia no sentido ocidental. Direitos do homem? Um conceito desenvolvido no Ocidente. Os Estados-Unidos matam todos os dias no Iraque, o discurso dos direitos do homem é intolerável para os Chineses. Na China diminuímos a pobreza, garantimos o progresso a um quinto da humanidade. O direito à vida, o direito à educação, isso é o mais importante. A liberdade de expressão já não é um problema. Os críticos dizem que 450 milhões de Chineses vivem com menos de dois dólares por dia. Trata-se de um mal-entendido: dois dólares em sistema socialista não são a mesma coisa do que no Ocidente. Aqui as pessoas cultivam. Conheceis Americanos que fazem o mesmo? A nossa economia continuará a crescer, aproveitaremos a nossa mão-de-obra barata e a China permanecerá competitiva. O meu desejo é o de caminharmos para um sistema onde reine a "regra da lei" como em Hong-Kong ou em Singapura. Com uma minoria esclarecida e meritória que decide da marcha a seguir e cuja prioridade é a de fazer respeitar a lei."
Se quer ler o texto completo, faça-o aqui. Se quer ler em português, use este tradutor. Foi Ricardo, meu correspondente em Paris, quem me enviou a referência. Finalmente: o pensamento de Pan Wei certamente agrada a alguns seres fora da China.

5 comentários:

Xiluva/SARA disse...

Uau, no Zimbabwe e aqui ele vai ganhar fãs...

umBhalane disse...

Bom, o estádio de desenvolvimento do mundo tem diversos patamares, várias velocidades.

Só que, os que ultrapassaram esses estádios há muitas centenas de anos, não querem voltar para trás...

E depois, há os que querem tirar proveito da situação.

Talvez venha a haver um dia...em que parte da humanidade parta para um qualquer "Marte", e a outa cá fique.

Quem sabe!

Anónimo disse...

...tem uma certa lógica quando se trata dum país com 450 milhões...
aqui,no Zimbabwe e noutros lugares do mundo com meia dúzia de cidadãos ,comparado com a china ,é o que se vê...
Imaginemos Moçambique com 450 milhões ,como seria????
A China é um monstro e não pode funcionar segundo certos canônes do mundo em geral...
Caro Professor, ai está um assunto que merecia a sua sociológica atenção...
Democracia sempre!!!!

Carlos Serra disse...

Uma teoria sedutora, a do governo dos eleitos e de tudo esclarecidos...

Anónimo disse...

O politólogo Chinês toca num aspecto crucial na sua análise... a tendência para uma visão hegemónica e etnocentrica do mundo ocidental. Pelo menos por parte daqueles que detêm o poder... é urgente destruir este mito.