31 maio 2008

Angélique Kidjo canta "Zelié"

Já neste diário ouvimos a falecida cantora togolesa Bella Bellow interpretar "Zelié". Oiçamos o mesmo tema na voz mais agressiva da cantora béninense Angélique Kidjo.

Conselhos australianos aos que visitam Moçambique

Leia um conjunto de conselhos que os governo australiano dá aos seus cidadãos que visitem Moçambique. Afirma-se, por exemplo, que é necessário ter uma grande precaução com os elevados índices de criminalidade séria. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Já agora: alguém quer comentar?

Respostas a questionários

Hoje ainda escreverei um pouco sobre as respostas aos questionários situados no lado direito deste diário.

Empresários e negócios em Moçambique

Quer saber um pouco dos empresários e dos negócios em Moçambique? E de quem neles aparece em destaque? E de algumas coisas mais? Pois leia aqui os cabeçalhos do Africa Intelligence. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.

Os riscos do efeito borboleta social na África Austral (2) (continua)

Prossigo esta série.
Creio poder-se defender que as relações sociais são um compósito de dois tipos de comportamento: o das pontes e o dos muros. Aquelas são destinadas aos nossos, estes aos outros. Aos nossos, àqueles com quem nos identificamos, que são nossos parentes, membros do nosso grupo social e/ou laboral, da nossa igreja, da nossa equipa de futebol, do nosso partido político, etc., a esses deixamos passar através de um semáforo com sinal verde. Aos outros, àqueles que são justamente os outros, exteriores aos nossos vínculos, esses são motivo de reserva, de impedimento (que pode ser total), para esses temos o sinal vermelho no semáforo social (escrevi sobre isso no meu livro Combates pela mentalidade sociológica).
Esse é um quadro muito maniqueísta, mas contempla, creio, o geral do nosso comportamento, feito das coisas pequenas, intermédias e grandes.
As representações sociais, a figurabilidade do Outro, a etiquetagem, o alfobre dos prejuízos e dos estereótipos, dependem das formas pelas quais estamos em relação e, especialmente - como tanto vezes tenho defendido neste diário -, da distribuição dos recursos de poder.

O cemitério

Em trabalho da Anabela Massingue: "A habituação veio ao de cima. Passamos a ver com naturalidade crianças brincando e correndo de um lado para o outro no recinto do Cemitério de Lhanguene; gente com produtos alimentares e outros atravessando por ali para alcançar as suas zonas de residência, bem juntos ao cemitério e, de algum modo, a anomalia tornou-se normalidade. Hoje em dia, chegados ao Lhanguene, desprovido de água procuramos logo pelos jovens e crianças de tenra idade para nos fornecer. Trabalho infantil é algo fora do vocabulário. (...) Nos momentos de menos agitação, algo mais acontece. Por cima de campas e distante das poucas vias de acesso que ainda restam e dos olhos de um e outro visitante, joga-se. Os jogos não são para menos. Envolvem dinheiro e não pouco."

30 maio 2008

O Sr. Macamo e o espírito zulu maligno

Atento à história, perscrutador dos desígnios escondidos, o Sr. Marcos Macamo decidiu investigar as causas da xenofobia na África do Sul e chegou a esta conclusão: "O caso de xenofobia na RSA pode ter a mesma máquina por detrás. Trata-se, na minha opinião, de um espírito zulu maligno incarnado nos bisnetos e tetranetos de Tchaka Zulu."

29 maio 2008

Mayra Andrade - Lua

Aí está a bela voz da cabo-verdeana Mayra...

Somális ameaçam na sequência da xenofobia

O jornalista João de Sousa reportou há momentos que surgiu um novo de fenómeno na sequência da xenofobia na África do Sul. Assim, cidadãos Somalis estão a criar distúrbios em campos de refugiados, ameaçando de morte, por exemplo, quem se aproximar dos locais onde há alimentos e medicamentos. Cidadãos de outras nacionalidades estão inquietos (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30). Um inquietante efeito cascata.
Enquanto isso, 33 mil Moçambicanos regressaram ao país, fugindo à xenofobia.

Suky canta sobre xenofobia

Muito obrigado ao povo,
Sul-Africanos me puseram pra fora,
Mataram a minha família estragaram-me a história,
Eu só
Eu só queria ser feliz e agora,
Sem nada pra vestir sigo a minha trajectória!

Essa a estrofe inicial de um trabalho do rapper moçambicano Leonel Magaia (Suky) a propósito da xenofobia na África do Sul. Confira e importe aqui.

Francamente não estou interessado

Acontece que faz quatro dias que recebo emails de pessoas que conheço com anúncios de empresas chinesas vendendo prendados produtos. Sugiro que se verifique se os endereços não estão a ser indevidamente usados.
Nota - Lázaro Mabunda: do seu endereço já recebi hoje três emails inundando-me com publicidade a produtos chineses...

Xenofobia na África do Sul








Fotos enviadas por Paula Libombo. Veja o questionário do lado direito deste blogue.

Xenofobia na África do Sul: mais de 80 mil deslocados

Eis a mais recente informação da BBC sobre deslocados devido aos ataques xenófobos na África do Sul:
África do Sul: cerca de 51,000 (Gauteng: 28,000; Western Cape: 20,000; KwaZulu Natal: 2,500)
Moçambique: 32,082
Malawi: 480
Zimbabwe: 123
Confira aqui. Se quer ler em português, use este tradutor.

Nhamucho e força divina contra a xenofobia

Segundo o mediafax de hoje, congregações religiosas pediram ontem aos povos africanos para reforçarem "as suas relações amistosas" com vista a evitarem novos actos de xenofobia como os que ocorrem na África do Sul. Nesse contexto, Salvador Nhamucho, pastor da igreja Evangelho em Acção, disse que "as pessoas afectadas e não só, devem acreditar na força divina para solução dos problemas."

Prémio espanhol para o CISM

O Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM) recebeu o Prémio Príncipe de Astúrias de Cooperação Internacional de Espanha pela sua luta contra a malária. Obrigado à jornalista Sandra Quiroz pela informação.

28 maio 2008

Bella Bellow canta "Zelie"

A bela ícone da canção togolesa morreu aos 28 anos, em 1973, num acidente de viação.

Simone e Pablo Milanés - Yolanda

Um trabalho de Raul Chambote

O Raul Chambote, autor do Combate folclórico da pobreza, mandou-me um trabalho seu - datados deste mês - e sugeriu-me que eu o divulgasse aqui - o que faço -, com o título Reassentamento pela metade no Vale do Zambeze.

Saiu informe 2008 da Amnistia Internacional

Já está disponível o informe 2008 da Amnistia Internacional. Consulte aqui em português. Sobre Moçambique, confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Barama: a 48 delegados da vitória (e Teresa poderá ser embaixadora em Moçambique)





O pré-candidato democrata às eleições norte-americanas, Barack Obama, precisa apenas, agora, de 48 delegados para vencer a nomeação democrata, em disputa nos Estados de Puerto Rico, Dakota do Sul e Montana. O senador Barama - que tem agora o suporte do ex-presidente cubano Fidel Castro - está à frente de Hilary Clinton em votos, delegados e ganhos em Estados (email hoje recebido de David Plouffe, chefe da campanha de Obama).
Tenho para mim que ele será o próximo presidente dos Estados Unidos da América. E recordo que há muitos meses e de forma contínua aqui falo dele.
Se Obama for o próximo presidente norte-americano, coloco como hipótese que a futura embaixadora americana no nosso país será Maria Teresa Thierstein Simões-Ferreira, nascida em Maputo em 1938 e esposa do bilionário senador John Kerry, apoiante de Obama. Ganda hipótese, não é?

Os riscos do efeito borboleta social na África Austral (1)

A xenofobia na África do Sul, a violência política no Zimbabwe e, recentemente, no Quénia - por exemplo -, são, certamente, fenómenos diferentes. Mas a história, perversa que é, está cheia de fenómenos mestiços, filhos de situações distintas e subitamente aglutinadas, reagindo umas sobre as outras como se dimanando de uma mesma causa. Neste mundo onde o distante de ontem é o próximo de hoje, onde o simples se torna rapidamente complicado, onde o acaso se espartilha no lógico, o bater social de asas em Alexandra ou em Harare pode repercutir rapidamente em Mbabane ou no Xiquelene. Os sismos sociais são bem mais reais do que pensamos.

Feitiçaria e crime (1)

Diversos tipos de crimes têm provocado no nosso país uma legítima onda de indignação e condenação. O tráfico de seres humanos e os linchamentos péri-urbanos em algumas cidades do país, com intensa cobertura jornalística, são dois desses crimes. Porém, com reduzido abrigo nas páginas dos mídia, como se albergados numa generalizada crença na sua justeza cultural, os crimes por acusação de feitiçaria - fenómeno generalizado no país, provocador de imensa intranquilidade e trauma - merecem, creio, bem menos a nossa atenção e a nossa preocupação. Tanto quanto julgo saber, o procurador-geral da República, Augusto Paulino, foi, há tempos, na sua informação anual à Assembleia da República, o primeiro a colocar de frente, publicamente, o problema.

27 maio 2008

Linchado em Maputo (34ª vítima a nível nacional)

De acordo com o Diário Independente de hoje, um indivíduo foi linchado quarta-feira passada nos arredores de Maputo. O jornal não forneceu mais pormenores. Mas deu a conhecer a indignação da ministra da Justiça, Benvinda Levi, que, reportando a existência de 26 casos de linchamentos no país, "anunciou a realização, dentro em breve, de uma conferência alargada aos líderes comunitários, para reflectir sobre a problemática dos linchamentos, principalmente as causas que estarão por detrás disso, bem como também fazer passar algumas mensagens sobre as competências das instituições do Estado". Obrigado à Paula Libombo pelo envio do jornal via email.
Com esta nova vítima, eleva-se para 34 o número de linchados este ano no país em zona urbana e péri-urbana, nos casos publicamente reportados - leia a minha última postagem aqui -, a saber: doze em Chimoio, dez na Beira, nove em Maputo, dois no Dondo e um em Vandúzi.

Xenofobia na África do Sul: 29.000 Moçambicanos já regressaram

Devido à xenofobia na África do Sul, 29 mil moçambicanos já regressaram ao país (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30). Partindo do princípio de que na sua maior parte eles tinham diferentes tipos de emprego naquele país, podemos prever os problemas sociais que poderemos enfrentar, especialmente no sul do país. Imagem reproduzida daqui.

Linchado na Munhava/Beira (33ª vítima a nível nacional)

"Beira (O Autarca) – Populares no Bairro da Munhava, arredores da Cidade da Beira, lincharam na madrugada do último domingo mais um indivíduo identificado na zona como sendo o responsável de uma quadrilha de malfeitores que actua naquela área. Trata-se de Simão, que foi surpreendido por um grupo de populares enquanto tentava assaltar um jovem identificado por Zeca, empregado da BP, residente nas proximidades da Rua Kruss Gomes, a escassos metros do Hospital da Munhava. O grupo de populares que era em número considerável vinha de socorrer uma jovem que acabava de ser assistida no Hospital da Munhava depois de ter sido vítima de agressão física na mesma noite juntamente com um companheiro, o qual contraiu ferimentos graves e foi imediatamente transferido para o Hospital Central da Beira." (obrigado ao Egídio Vaz pelo envio do jornal O Autarca de hoje via email).
Com esta nova vítima, eleva-se para 33 o número de linchados este ano no país em zona urbana e péri-urbana, nos casos publicamente reportados - leia a minha última postagem aqui -, a saber: doze em Chimoio, dez na Beira, oito em Maputo, dois no Dondo e um em Vandúzi.
Observação: a minha ausência no Brasil por cerca de um mês pode ter feito com que eu desconheça outros casos. Se o leitor deles souber, por favor informe-me. Obrigado.

Frelimo: Renamo é medíocre; Renamo: Frelimo é insensível ao povo

Leia no mediafax de hoje um relato do que foi dito pelos chefes das bancadas da Frelimo e da Renamo, respectivamente Manuel Tomé e Maria Moreno, no encerramento da VIIIª sessão da Assembleia da Républica. Obrigado ao Egídio Vaz pelo envio do jornal via email.

Tutu advertiu há quatro anos

Certamente há quem tenha a memória curta. Especialmente quando se discute a xenofobia na África do Sul. Ora, há quatro anos, o arcebispo sul-africano e prémio Nobel da paz, Desmond Tutu, causou uma grande indignação quando expressou os seus receios sobre os riscos sociais do fosso entre ricos e pobres no seu país. Muitos sul-africanos estavam a viver em pobreza desumanizante. E advertiu: um dia pode acontecer o big bang. Se quer ler em português, recorra a este tradutor.
Adenda às 11:49: "Nos bairros mais pobres em redor das grandes cidades e centros industriais os sentimentos xenófobos são uma realidade inquestionável, com milhares de sul-africanos que lutam com dificuldades para arranjar trabalho e ter acesso a habitações condignas a acusarem os estrangeiros de contribuírem para os seus problemas." - edição do Correio da Manhã de hoje.

Xenofobia contra ciganos na Itália

Se a xenofobia incendeia a África do Sul, ocorreram dramáticas perseguições aos ciganos em Ponticelli, a leste de Nápoles, na Itália. Confira aqui o relato circunstanciado da diabolização e dos pogroms, em francês. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.
Xenofobia é decididamente campo planetário e nada tem de especificamente africano.
Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

25 maio 2008

A cabeça e o jeitinho do Moçambicano (1)


Uma curta série, inspirada no livro com a imagem em epígrafe, já na sua quarta edição. Aguarde. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.
Nota: leia o que um jornal aparentemente conservador, o "Estadão de hoje", escreveu sobre o livro. Para uma crítica alicerçada no conceito de elite, confira aqui. Para se inteirar de uma grande satisfação à direita, mesmo à direita, leia aqui nesta revista amada pelas elites brasileiras.

Já em Maputo

Já estou em Maputo. No trajecto aéreo verifiquei que a xenofobia constitui manchete nos jornais sul-africanos. E que os Moçambicanos são aí frequentemente referidos. Aqui, os semanários "Savana" e "Domingo" desta semana também têm o fenómeno como manchete, do primeiro recebi via email todo o material.
Nota: continuam a pedir-me, de forma insistente, por email, que escreva sobre a xenofobia na África do Sul. Já o fiz de forma breve, mas creio que deverei voltar ao tema.

24 maio 2008

Olá!

Olá, bom dia, boa tarde ou boa noite. Noite ainda aqui em Porto Alegre. Dentro de algum tempo parto para o aeroporto. Abraço.

23 maio 2008

Brasil (26) - Até!

Pela hora de Moçambique, onde já passa da meia-noite, despeço-me do Brasil, ainda que hoje durma em Porto Alegre, para no sábado apanhar o avião que me levará a Joanesburgo e no domingo um segundo até Maputo. Às brasileiras e aos brasileiros que tornaram possível a minha bela estadia aqui, o meu abraço, o meu kanimambo. Do vosso país deixei aqui algumas imagens, saídas da intuição, ao sabor da alma. Até!

22 maio 2008

A "hora do fecho" do "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "Na hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com a "hora do fecho" desta semana:
* A banca em Moçambique não pára de agitar-se. Lembram-se daquele banco que era comprado e já não era comprado e que provocou sérios ataques de nervos ao seu PCA? Pois bem, um tripé de peso, sempre ligado à “nomemklatura”, está a negociar ficar com 49% deste grande. Os novos tigres da “unidade” também estão a acompanhar a movimentação.
* E para não ficar atrás, o outro tigre, que tem as suas atenções também viradas para Nacala, está a preparar-se que acrescentar uma nova área ao seu “portfolio”. Cimentos, uma matéria em grande escassez ... na África do Sul e em Angola ...
* As políticas e o julgamento mediático continuaram esta semana ofuscado pelo mecânico ginecologista. O “proprietário” da “Auto Nelson”, bata de nome e de farda de trabalho, aumentou uns tantos milhares de metcas às nossas telefonias móveis, tal foi a profusão de sms trocados sobre o caso.
* Quem andou mal foi o Dr. Tsunami. Já se esqueceu dos tempos em que era avançado dos ventoinhas e da máxima que a melhor defesa é o ataque. Perdeu pontos e foi ridicularizado pelos sectores que querem a sua cabeça. Talvez possa pedir assessoria ao dinâmico que dá apoio à Tsunami II ou aos desempregados de um dos ministérios do fim da Julius Nyerere.
* Quem também se está a enterrar cada vez mais é o advogado do Chókwé. O julgamento é para condenar os autores de um atentado contra si. Mas de facto o que está a acontecer é a versão 2 do julgamento Carlos Cardoso e réu virtual é mesmo o filho do galo. Quem mexe na caixa de escorpiões arrisca-se ...
* Fora dos ares da capital andaram bem os nossos compatriotas de Pemba que querem a sua baía entre as mais belas do mundo. Espera-se que o júri não tenha pisado as “minas” plantadas nas areias finas da praia do Wimbe, uma oferta dos habitantes pobres do bairro que faz paredes meias com o luxuoso Pemba Beach.
* A irmã do simpático “anchorman” da espetaculosa Jeremias Langa foi, até agora, a única, no programa Oxigénio, a atingir a fasquia dos três mil meticais, o que está a levantar burburinho em alguns círculos. As más-línguas falam de auxiliares de memórias.
* Do outro lado, em ano eleitoral, continua o namoro aos círculos confessionais. Um devoto apresentador, que provavelmente não sabe que Moçambique é um estado laico, fechou a intervenção com uma benção a Fátima. O que levou um grupo de irritados internautas a interrogarem-se sobre “quem é a Fátima”
À boca pequena
* Os “mambas” têm de recrutar mesmo um “nhamussoro” bem forte. Resta saber se vem de Mabote, ou mais próximo da capital, de Magude ...

A terceira força de Mbeki

Ante a onda xenóbofa que na África do Sul afecta cidadãos africanos estrangeiros, entre os quais os nossos compatriotas, o governo de Thabo Mbeki imputa a responsabilidade a uma "terceira força" (processo clássico), enquanto o novo presidente do ANC, Jacob Zuma, imputa a responsabilidade ao fracasso governamental. Leia aqui em francês um trabalho de Philippe Rivière publicado no Le Monde Diplomatique. Se quer ler em português, use este tradutor.

Brasil (25) : Pelotas

Vindo de São Paulo, onde o impessoal me marcou fortemente, Pelotas - que a brasileira Juraci já neste diário gentil e belamente descreveu - ofereceu-me a tactilidade da história, o denso trajecto das coisas passadas-mantidas em quase cada esquina. Filha da arquitectura colonial portuguesa, a cidade encosta o futuro à elegância de percursos múltiplos, o passado de uma agropecuária famosa, o chamado forte dos cavalos e dos cavaleiros.
Cidade pequena embora, é fortemente habitada pelo comércio e por um imenso mundo de venda de quinquilharia. Com alguma atenção, sentimos o apelo ao interior, às casas, ao mobiliário, ao privado, no preciso momento em que coabita com o exterior. Mas cidade universitária também, cheia de estudantes. Cidade, ainda, turística.
E cidade de coisas para mim bem curiosas. Por exemplo, nunca tinha visto tanta farmácia e drogaria em cada esquina, lado a lado. Bem tentei saber a razão do fenómeno, mas debalde. E dizendo farmácia, drogaria, digo também óptica.
Mas o que mais me fascina nesta pequena mas intensa e variada cidade onde o futuro beija o passado nas mãos do presente e onde não vejo gente a dormir nos passeios como em São Paulo? São as carretas puxadas por cavalos, gente do frete e gente da catação de lixo. Cada dia, a cada manhã, os cascos rítmicos dos cavalos entram e ancoram no meu prazer.
E, já agora, cidade das sapatilhas. Acho que nunca vi tanta gente sapatilhar, sapatilhas de todos os tipos, não importa o traje e o período do dia. Por isso as sapatarias-sapatilharias por todo o lado são uma outra característica de Pelotas, a Pelotas famosa pelos seus doces. E Pelotas de um povo gentil, cordial, falador.

O terrível espírito do curandeiro Uthui

A vida tem histórias singulares, como esta reportada com convicção pelo jornalista António Zacarias do Diário Independente (edição de amanhã, já em minha posse): "A morte, em Abril, do curandeiro Uthui, ocorrida no distrito de Funhalouro, província de Inhambane, paralisou o centro de saúde e a maternidade de Mavume, porque após a sua morte o seu corpo foi depositado naquele unidade sanitária, tendo o seu espírito se enraizado no estabelecimento hospitalar provocando terror como contam os populares. Entretanto, as autoridades reconhecem o facto e garantiram ao DI que o espírito já foi removido."

Sobre a xenofobia na África do Sul

A história do apartheid na África do Sul é atravessada pela criação de guetos racialmente distribuídos, distantes das cidades dos brancos. Lá estavam (e lá continuam), por exemplo, os negros, mão-de-obra barata.
O fim formal do apartheid criou para esses excluídos a esperança não apenas do fim dos guetos, mas, também e fundamentalmente, da melhoria substancial das condições de vida.
Não há, porém, indicadores de que essas condições de vida tivessem melhorado. Como escreveu William Gumede, analisando os ataques xenófobos iniciados em Alexandra, o que se passa tem muito a ver com a incapacidade do governo em fornecer serviços básicos aos pobres, como alojamento e emprego.
Mas a África do Sul sempre tem sido uma espécie de eldorado para os estrangeiros, que aí vão à procura de melhores condições de vida, eles também.
Numa concentração elevada de frustração e hostilidade, num país onde muitos dos antigos artífices da libertação nacional enriqueceram e enriquecem criando as condições para um novo apartheid, os pobres dos bairros da lata sul-africanos viraram a sua raiva para outros pobres, os africanos estrangeiros. Um processo de transferência de imputação causal quase clássico na história da humanidade, processo de "amnésia" que se constitui como mensagem de nacionalismo extremo, disfarçando e narcotizando o peso das desigualdades sociais internas, cada vez mais acentuadas. A diabolização xenófoba é cruel, mas pode ter dividendos políticos importantes.

Haiti: bolos de areia contra alimentos caros

Com a subida dos preços dos alimentos, apareceu nos bairros pobres do Haiti a venda de bolos de areia, mistura de argila, sal e gordura vegetal. Confira aqui. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspodente em Paris, pelo envio da referência.

Mais um linchado na Matola

Acusado de roubo de um dvd e de outros bens, um jovem foi queimado na madrugada de ontem na Matola (STV, jornal da noite, dia 21 - informe por email do meu assistente Samo Gudo). Entretanto, confira aqui.

Xenofobia: milhares de Moçambicanos expulsos de África do Sul

Segundo o mediafax de hoje, mais de dez mil moçambicanos já foram expulsos da África do Sul na sequência da xenofobia que grassa naquele país. Há indicação da morte de mais de 25 compatriotas nossos e de violação de mulheres. Confira aqui.

Onze idosos queimados no Quénia por acusação de feitiçaria

Segundo a polícia, onze pessoas idosas (oito mulheres e três homens) com idades entre os 80 e os 96 anos foram foram queimadas no oeste do Quénia acusadas de serem feiticeiras. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Permitam-me recordar-vos que, ao nível da Unidade de Diagnóstico Social, dirijo uma nova fase da pesquisa sobre linchamentos em Moçambique, justamente sobre aqueles provocados por acusações de feitiçaria. Tanto quanto julgo saber, foi possível a uma das minhas assistentes, recém-regressada da Zambézia, obter o testemunho de cinco mulheres que, acusadas de feitiçaria, puderam, no entanto, escapar ao linchamento. Brevemente, em seminário, daremos conta dos resultados preliminares.

Olá!

Olá, bom dia, boa tarde ou boa noite! Hoje é feriado aqui, no Brasil. A minha actividade académica está terminada neste belo e imenso país. Depois de amanhã regresso a Maputo. Obrigado ao Ricardo, ao Egídio e à Paula pelo envio dos jornais, que irei conferir mais tarde. Abraço.

21 maio 2008

Brasil (24) : favelas para visita turística



O capitalismo pode transformar muita coisa em objecto lúdico, turístico. Na verdade, transforma tudo nisso. Os leões de Moçambique e as favelas do Brasil, por exemplo. Desde os anos 90 que as favelas brasileiras podem ser visitadas como centros turísticos. A pobreza consome-se elitariamente, tudo é transformável em mercadoria. Escutem: perante situações como essa, tenho o direito de reagir com cólera e dor como cidadão, a esquecer temporariamente o estudante clínico do social que em mim tb habita. Cada vez menos me habituo ao natural e ao naturalizado.

Xenofobia na África do Sul


Hoje ainda deverei escrever sobre esse tema. Aguardem.
Adenda: segundo o Diário Independente de amanhã, já em minha posse, "A violência contra imigrantes na África do Sul chegou à cidade portuária de Durban. A polícia afirma que grupos armados com garrafas e pedras atacaram membros da comunidade nigeriana e as suas propriedades."

As chamas do ódio xenófobo na África do Sul









Imagens dramáticas da xenofobia na África do Sul, que me foram enviadas pela Paula Libombo.