10 setembro 2006

Uma pergunta lixada

Uma pergunta lixada: os apanhadores de lixo, os lixeiros, gostam dos restos de comida que encontram e comem?
Naturalmente que as nossas respostas podem variar. E pode até acontecer que nem respostas tenhamos por não nos termos nunca colocado essa pergunta e, especialmente, por não termos tido nunca a lixada viva de lixeiros.
Defendamos esta tese: se os gostos gastronómicos são socialmente determinados, a fome, essa é associal.
Porém, o ponto central é que os lixeiros gostam do que comem porque não têm outra alternativa...social. São socialmente obrigados a socializar a fome associal.
Mas, depois, no miolo de uma questão tão capciosa na aparência, tão desnecessária, tão banal, tão absurda na aparência (ou na realidade), outros problemas podem surgir: que condições sociais permitem o surgimento de perguntas e, se quiserdes, de temas de pesquisa? De certas perguntas e de certos temas de pesquisa? O que nos leva a escolher, por exemplo, como tema de pesquisa, um fenómeno passado no século XVIII? O nosso gosto, a nossa preferência individual? O que nos leva a uma sessão de jam-session? O que determina a redacção do jornal “Notícias” a escolher os temas das suas páginas 2 e 3?
Marx escreveu um dia que a humanidade só se põe os problemas que é capaz de resolver. Provavelmente tinha e tem razão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Engracado como coisas tao simples passam por mim sem nunca me preocupar em encontrar respostas para elas, ou ate sem nunca perceber que e uma pergunta e, que ao ser feita me faria perder nas respostas, isso se eu encontrar as respostas.Bjs Tuchamz

Carlos Serra disse...

Singular perfil...