28 abril 2006

De que lado estais?

Se vocês estiverem no sopé da montanha tereis um certo tipo de paisagem, naturalmente limitado. Mas se vocês estiverem no alto da montanha, a visibilidade é bem maior, podeis ver bem mais coisas, podeis captar como que as nervuras do social, os seus recantos mais íntimos, digamos que uma espécie de alma física das pessoas.
Se tiverdes um holofote, vereis uma parte da realidade. Se tiverdes dois holofotes, vereis uma fatia da realidade maior. Se tiverdes muitos holofotes, aumentará significativamente a visibilidade do social.
Mas aqui começa o real problema das ciências sociais.
O que deve entender-se por visibilidade? Será aquela visibilidade que transportamos desde Francis Bacon e que nos pede que eliminemos tudo aquilo que mascara a realidade e nos impede de ver correctamente o social? Será aquele modelo científico-natural do positivismo que tem por ideal uma ciência livre de preconceitos, de ideologia, de julgamentos de valor e de pressupostos políticos, uma ciência asseptizada?
Esse o nosso dilema, o real dilema.
Como tendes reparado, eu tenho de alguma forma feito a apologia desse modelo científico-natural, do ideal positivista, de uma espécie de física social à Comte, ao mesmo tempo que tenho tentado mostrar quanto dependemos de tudo aquilo que é a nossa variada socialização ao longo da vida. Tenho mesmo dito que nenhuma paisagem social pode ser vista fora do quadro de socialização que é o de cada um de nós.
Contradigo-me? Depende do que entendemos por contradição. Se por contradição entendermos o facto de sermos habitados por várias paisagens de verdade aproximativa, em luta, em bifurcação permanente, pluridimensionais, então eu contradigo-me com prazer.
No que me concerne, não me vejo incólume aos juízos de valor e à tomada clara de posições políticas.
Chegado lá ao alto da montanha, ao mirante mais elevado, ao beldevere, ao observatório como diz Michael Löwy (*), eu tomo logo posição: a posição alinhada pelos deserdados da terra, por todos aqueles que são excluídos dos frutos do bem-estar social. E não temo enunciar essa posição. Estar desse lado, é, para mim, estar no mirante mais elevado.
Não penso, porém, que essa posição tolha a criatividade sociológica, que mutile aquilo que Wright Mills chamou imaginação sociológica.
__________________________
(*) Löwy, Michael, As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen, Marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez Editora, 1994, 5ª edição revista.

2 comentários:

Anónimo disse...

Hay personas que se vanaglorian de su "objetividad". Hay personas que se dicen"apolíticas". Que significa eso?. Signica mantenerse al margen de los problemas, no posicionarse ante los conflictos, no tomar postura? No!!! esas actitudes implican colocarse del lado de los poderosos, del lado de la comodidad, de lo establecido.
Tomar posicion a favoe "de los desheredados de la tierra, de los excluidos del bienestar social", como muy bien dices es estar en lo más alto del mirador.
felicitaciones y parabienes para este diario de un sociólogo.

Anónimo disse...

Todos querem estar ao lado dos grandes, dos famosos e usufruir um pouco do brilho deles.
Parabéns pela escolha de estar ao lado dos pequenos, dos menos favorecidos.
Sua iniciativa de fazer conhecido de que"os que usam o poder e o dinheiro p/controlar os outros, estão despreparados p/possuí-los", é de grande valia p/a sociedade não só do seu país, como também do meu e de muitos outros, que de uma forma ou outra vivencia essa realidade.
O mundo precisa de mais pessoas com essa postura, precisa de mais "Carlos Serra".

D.R.